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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Bispos da França Contra Projeto de Sarkozy

A Assembléia dos Bispos Ortodoxos da França (AEOF), reunida no dia 15 de dezembro último, se pronunciou contra o projeto enviado pelo Presidente Nicolas Sarkozy ao Parlamento francês propondo o trabalho obrigatório aos domingos, deixando este de ser um dia feriado.

Esta é mais uma batalha a ser travada contra o espírito agnóstico, ateu, materialista e anti-cristão que quer tomar posse da cultura e da vida da Europa Ocidental, como bem argumentaram os bispos, há uma necessidade básica de descanso no ser humano, de convívio com família e seus entes queridos, além do mais, os cristãos celebram a ressurreição do Senhor aos Domingo, e isto é uma tradição multimilenar na Europa, o que mostra o descaso do governo francês para com a população cristã.

Católicos e ortodoxos buscam estratégia comum de defesa da família

Prelados de ambas as confissões se reúnem pela primeira vez para falar do tema
Por Inma Álvarez


TRENTO, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Na semana passada acontecia pela primeira vez um fórum conjunto entre bispos ortodoxos e católicos para tratar do tema da família e para pôr em comum a visão de ambas as confissões.

O objetivo do encontro era, segundo seus organizadores, diante da situação atual da família na Europa, oferecer uma resposta pastoral conjunta de católicos e ortodoxos. Durante as sessões, ambas as partes manifestaram sua coincidência na visão da complementaridade entre homem e mulher, o caráter sacramental do matrimônio indissolúvel, assim como as bases teológicas sobre a família. (
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Gratidão

Olá, amigos,
Cristo está no meio de nós!

Estive ausente deste blog, mas mesmo assim, vocês continuaram acessando.
Agora estou retornando, fazendo um esforço para conciliar meu tempo.

Um forte abraço a todos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008


O patriarca Ecumênico Bartolomeu I recebeu a visita do Chefe da Igreja da Grécia, Arcebispo Jerônimos, eleito aos 70 anos, em fevereio deste ano com a morte de seu antecessor, Arcebispo Cristodoulos.

Antes de sua eleição, o Arcebispo Jerônimos era bispo da cidade de Thebes desde o ano de 1981.

Esta visita é considerada muito importante, uma vez que as relações da Igreja da Grécia com o Patriarcado Ecumênico tem sofrido alguns arranhões.

Patriarcado De Moscou Não Participa de Oração Conjunta com Não Ortodoxos

O patriarcado de Moscou reafirmou sua intenção de se abster de participar de encontros com grupos não ortodoxos com a finalidade de orar juntos, pois não considera a concelebração com os representantes de outras igrejas cristãs algo que seja possível:

"Queremos mais uma vez confirmar a intenção a nossa intenção de nos abster de particiupar de orações em conjunto com os não ortodoxos"
, declarou à Interfax.ru o acessor do Secretariado para as Relações Interortodoxas do Departamento de Relações Eclesiais Externas do Patriarcado de Moscou, Pe. Alexandre Vassyoutine.

O Padre também lamentou o fato de que a posição da Igreja Ortodoxa Russa não seja apoiada nesta decisão pelas demais Igrejas Ortodoxas.

Fonte: Orthodoxie

terça-feira, 13 de maio de 2008

Restaurada a Biblioteca do Patriarcado de Alexandria


A preservação da Biblioteca do Patriarcado de Alexandria é um fato extremamente importante . Sob o patrocínio do Banco Nacional da Grécia, a famosa biblioteca teve seu magnífico acervo preservado: são 40.000 livros e 7.000 manuscritos antigos que datam de 1480 d.C a 1880 d.C.

A cerimônia de reinauguração foi marcada por grande pompa e prestigiada por diversas autoridades religiosas e civis.

Em suas palavras dirigidas ao público o Patriarca de Alexandria e de Toda África, Teodoros II destacou que o acervo da Biblioteca Patriarcal de Alexandria, além de conter importantíssimas obras sobre a história, doutrinas e teologia da Igreja Ortodoxa, também possui um acervo notável que mostra não só a grande contribuição cultural do helenismo egípcio, mas, do Egito como um todo. Todo este material está disponível para as pesquisas científicas, num gesto de colaboração da preservação da memória cultura egípcia para as gerações futuras.

O Patriarca Teodoros II, na ocasião, condecorou o Presidente do Banco Nacional da Grécia, Takis Araplogou com a Cruz de São Marcos, que é a mais alta distinção do Patriarcado de Alexandria.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Comemoração de São João, o Teólogo

Embora o dia da Festa de São João seja em 26 de setembro, hoje comemora-se o milagre que se opera anualmente na sepultura do Apóstolo.


A cada 08 de maio, peregrinos se dirigem a uma localidade perto da cidade de Éfeso em busca do milagre do pó vermelho que é trazido por um vento no local onde foi sepultado o Apóstlo São João e, muitos fiéis recebem a cura de seus males ao serem tocados por este pó de cor avermelhada.


Diz-nos a tradição que quando São João estava com mais de 100 anos, levou sete dos seus discípulos para fora de Éfeso e pediu que eles lhe cavassem uma sepultura em forma de cruz. Logo após, o Apóstolo pediu que lhe enterrasse vivo. Muito relutantes, todavia, os ses discípulos resolveram lhe obedecer.


No dia seguinte os discípulos de João voltaram e foram abrir a sepultura. Para a surpresa de todos, o corpo do Santo Apóstolo não mais estava lá.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

«Eu hei-de ver-vos de novo e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria»

Estas palavras do Salvador: «Eu hei-de ver-vos de novo e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» não devem ser reportadas a esse tempo em que, após a ressurreição, ele se mostrou aos seus discípulos na sua carne e lhes disse para o tocarem, mas a este outro tempo do qual ele já dissera: «Aquele que me ama, meu Pai o amará e eu me manifestarei a ele» (Jo 14,21). Esta visão não é para esta vida, mas para a do mundo que há-de vir. Ela não é para um tempo, mas não terá fim. «A vida eterna consiste nisto: que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste» (Jo 17,3). Desta visão e conhecimento, o apóstolo Paulo disse: «Hoje vemos como por um espelho, de maneira confusa, mas então veremos face a face. Hoje conheço de me maneira imperfeita: então, conhecerei exactamente, como também sou conhecido» (1 Cor 13,12).

Este fruto do seu trabalho, a Igreja o produz agora no desejo, então ela o produzirá na visão; agora ela o produz na dor, então ela o produzirá na alegria; agora ela o produz na súplica, então ela o produzirá no louvor. Este fruto não terá fim, porque só o infinito nos será cumulado. É o que fazia Filipe dizer: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta» (Jo 14, 8).

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O Reino de Deus Está em Vós

Não foi o próprio Senhor quem disse: "O Reino de Deus está em vós" (Lc 17,21)? É agora que começa a vida eterna. Peço-vos, meus irmãos, fazei a experiência! Se alguém vos ofender, vos caluniar, vos roubar o que vos pertence, mesmo se for um perseguidor, rezai a Deus dizendo: "Senhor, nós somos todos tuas criaturas, tem piedade dos teus servos e conduz-lhes o coração à penitência". Então, sentirás a graça na tua alma. Naturalmente que, ao princípio, tens de fazer algum esforço para amares os teus inimigos; mas o Senhor, ao ver a tua boa vontade, ajudar-te-á em todas as coisas e a própria experiência te mostrará o caminho. Pelo contrário, aquele que medita coisas más contra os seus inimigos não pode possuir o amor nem conhecer Deus.

Não sejas nunca violento para com o irmão, nunca o julgues, convence-o na mansidão e no amor. O orgulho e a dureza roubam a paz. Ama, portanto, aquele que não te ama e reza por ele; assim, a tua paz não será perturbada.

S. Siluane (1866-1938), Escritos Espirituais

OS RUSSOS E O BRASIL

O início dos contatos da Rússia com o Brasil remonta aos primórdios do século 19. O primeiro contato registrado pela História aconteceu em 1804 durante a primeira expedição russa de volta ao mundo. Os 2 navios desta expedição, "Nadejda" e "Neva", atracaram em portos brasileiros, inclusive em Recife. Conta a lenda que a tripulação foi convidada para uma festa naquele porto e, durante a mesma, os marinheiros russos fizeram uma demonstração de passos de suas danas folclóricas. Os anfitriões, impressionados, gostaram e passaram a imitar estes passos introduzindo-os no folclore local e dando origem ao famoso "frevo". Entre os cientistas que participavam da expedição estava o famoso G.I. Langsdorf. Naturalista, geógrafo e geólogo ele foi o explorador de Kamtchatka e dos territórios da América "russa". G. Langsdorf desempenhou um importantíssimo papel no estabelecimento de relações entre o Brasil e a Rússia. Sua atividade científica esteve ligada ao Brasil desde 1813, quando foi nomeado consul geral no Rio de Janeiro. Em 1826, ao se aposentar do serviço diplomático, ele organizou (sob o patrocínio do czar Alexandre I) uma expedição de exploração do interior do Brasil com a qual percorreu mais de 11,5 mil quilômetros. A expedição realizou a travessia das bacias do rio Paraná, Paraguai e Tabajs -- um verdadeiro ato heróico de seus participantes. Em 1828 G. Langsdorf concluiu o manuscrito da sua obra sobre a geografia física de Mato Grosso, um estudo complexo do planalto brasileiro e que foi a primeira pesquisa européia do gênero. O Brasil honra ate hoje a memória de G. Langsdorf e de suas conquistas cientificas. A intenção mútua de estabelecimento de relações diplomáticas oficiais entre os dois países começou logo após a declaração da independência do Brasil. No dia 09 de dezembro de 1827, o ministro das relações exteriores da Rússia, Sr. Nesselrode, enviou uma carta circular a todas as embaixadas russas informando o reconhecimento oficial do Brasil. Assim a Rússia tornou-se a 27a. nação a reconhecer o novo império sul-americano, fato oficialmente comunicado a D. Pedro I em 02 de janeiro de 1828.


Como primeiro embaixador russo no Rio de Janeiro foi designado F. Borel (de origem francesa) que há tempos estava a serviço da Rússia como consul geral em Portugal. Ele tambm desempenhou um importante papel nas primeiras relações russo-brasileiras pois, ao assumir o cargo, o comércio entre os dois países desenvolveu-se bastante bem e a exportação de mercadorias brasileiras para a Rússia cresceu sobremaneira. Se, de 1813 a 1825 os portos da Rússia não receberam nenhum navio vindo do Brasil, já no perodo de 1826 a 1828 atracaram 49 embarcações trazendo mercadorias brasileiras e outros 2 navios levaram mercadorias russas ao Brasil. A Rússia recebia açúcar, café, cacau e madeiras de lei para a decoração interna dos palácios de São Petersburgo, e exportava ao Brasil ligas de ferro. No período de 1883 a 1892, o embaixador russo da época, A. S. Ionin, também viajou muito pelo país, observando cuidadosamente a natureza, a economia e os costumes do povo brasileiro. Voltando à Rússia, no inicio do século, publicou o livro "Pela América do Sul" (em 3 volumes).

Imigrações

Imigrações da Europa

1905
A primeira imigração oficial de russos para o Brasil ocorreu após a malfadada revolução de 1905 na Rússia, tendo o governo brasileiro concedido asilo político aos revolucionários. Em 1906, grupos descontentes com as renovações litúrgicas promovidas pela Igreja Ortodoxa Russa, os assim chamados "staroveri" ("fiis do antigo credo"), resolveram deixar o país para manterem as suas crenças religiosas. Eram grupos formados em sua maioria de camponeses de todas as regiões da Rússia e que acabaram por se fixarem como pequenos produtores rurais em diversos estados brasileiros. No Estado de Mato Grosso os "staroveri" estabeleceram-se numa fazenda onde, ate hoje, cultivam a terra num sistema coletivo.

1918
Uma segunda imigração, bem mais numerosa, aconteceu a partir de 1918 composta de refugiados russos da revolução bolchevista. Especialmente em 1920 e posteriormente aqui chegaram muitos russos "brancos" (adeptos do regime czarista), vindos da Criméia. O contingente de emigrantes russos de 1921 era formado de representantes de diversos classes profissionais e sociais da deposta monarquia russa. Eram padres, estudantes de escolas militares, literatos, intelectuais, religiosos e, principalmente, oficiais e soldados do exercito "branco" czarista, derrotados na luta contra a implantação do regime comunista. Lotando vasos de guerra, navios mercantes e pequenas embarcações de diversas nacionalidades eles atravessaram o Mar Negro até Istambul, seguindo depois para Galipoli e para a ilha de Lemnos, ainda na Turquia. De lá, tomaram como destino diversos países do mundo, inclusive o Brasil. Em 1926, outro contingente emigratório da Rússia usando as rotas do Mar Báltico, passando principalmente pela Estônia e, mais ao norte, pela Finlândia. Naquela época, a imigração para o Brasil tinha um incentivo maior, pois, a política imigratória do Estado de São Paulo privilegiava a vinda de camponeses e pessoas habituadas a trabalhos pesados no campo. Descontentes e perseguidos em seu próprio país, estes novos contingentes no hesitaram em dissimular sua instrução e cultura para aproveitar esta oportunidade e sair da Rússia de qualquer maneira, fugindo do novo regime.

1945
Durante toda a década de 20, milhares de famílias russas buscaram refúgio nos países vizinhos: Polônia, Estônia, Tcheco-Eslováquia, Iugoslávia, Bulgária e China. Com o término da Segunda Guerra em 1945, a União Soviética estendeu seu controle aos países do leste europeu. Os russos, que estavam exilados naqueles países, foram obrigados a emigrar novamente. A estes exilados juntaram-se outros que, feitos prisioneiros durante a guerra, prestaram trabalhos forçados aos alemães e, por isso, temiam ser acusados pelo regime stalinista de "colaboracionistas dos alemães" . Havia também muitos membros do exército soviético que, com o fim do conflito, desertaram e procuraram as foras ocidentais. Ficaram conhecidos como Displaced Persons (DP), ou Deslocados de Guerra. Sob a tutela da UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) e, posteriormente, da IRO (Intemational Refugee Organization), eles primeiramente permaneceram em campos de refugiados na Áustria. Depois, na condição de apátridas, foram encaminhados para diversos países, inclusive o Brasil. O grupo mais numeroso de imigrantes russos foi o proveniente dos campos de refugiados da Alemanha, Áustria e Itália. Chegando ao Brasil, foram abrigados nas hospedarias da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, e na de Campo Limpo Paulista, em São Paulo, criadas especialmente para esse fim. Esse movimento manteve-se intenso ate o incio da década de 1950.Os dados sobre a imigração russa no Brasil registram a entrada no pais de 123.727 russos no período de 1919 a 1947. Este número parece exorbitante e provavelmente há alguma confusão com o termo genêrico "eslavos". Podemos admitir que a maior parte dos, assim chamados, "russos" deve ter sido de ucranianos, armênios, lituanos, letos, etc.

Imigração da China
Em fins do século XIX o governo imperial russo decidiu estender os trilhos da Ferrovia Transiberiana ate a cidade de Vladivostok, no extremo leste da Rússia. Para racionalizar o traçado, foi selado um acordo com a China que cedeu parte do território da Manchúria para a Rússia. Assim, um grande número de técnicos e engenheiros, juntamente com suas famílias deslocou-se para esta região, as margens do rio Sungari fundaram uma pequena aldeia ferroviária que chamaram de Harbin. A aldeia desenvolveu-se rapidamente e, em poucos anos, transformou-se numa grande e próspera cidade russa, com igrejas, faculdades, hospitais, escolas, teatros e associações culturais. Com a vitória do exército "vermelho" (bolchevique) em 1918, uma parcela do derrotado exercito "branco" do front leste da Rssia, fugiu para a China e fixou-se na mesma Harbin. O governo bolchevista, ao assumir o poder, declarou nulos todos os acordos da Rússia Imperial e Harbin voltou a pertencer novamente a China. Na prática, isto não teve maior repercussão na vida de seus habitantes russos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a região foi invadida pelo exército japonês, mas a cidade e seus habitantes não sofreram maiores danos. Somente o advento da Revolução Chinesa de 1947 alterou este quadro de estabilidade, pois o novo governo comunista chinês exigiu a saída de estrangeiros do pais. Mais uma vez, a população russa foi obrigada a procurar outras terras. A partir de 1953 seguiram para o porto livre de Hongkong tomando dali os rumos dos Estados Unidos, Austrália e Brasil.Entre 1949 a 1965, chegaram ao Brasil aproximadamente 25 mil russos, fugindo da revolução comunista da China. Eram, em boa parte, filhos de russos que emigraram para a China fugindo da revolução comunista da Rússia (1917) no fim da Primeira Guerra Mundial. O Brasil concedeu-lhes generosamente o visto de entrada. Naqueles anos falava-se de "refugiados russos", pois eles chegavam aqui mais por motivos políticos e religiosos. Na realidade, alguns deles no se adaptaram ao Brasil e, após aproveitarem a boa acolhida, dirigiram-se para outros países, principalmente Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Vida dos russos no Brasil
A grande maioria dos russos que permaneceu no pais, concentrou-se principalmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Nos Estados de Paraná, Mato Grosso e Goiás prevaleciam os grupos dos supracitados "starovery". Gradativamente, estes imigrantes adaptaram-se as novas condiçes, trabalhando, estudando a língua portuguesa e formando seus filhos nas universidades. Assim, com trabalho, inteligência, economia e sacrifícios, lograram obter boa posição econômica e social. Freqentando as escolas brasileiras do curso primário ao universitário, a nova geração dos filhos de imigrantes adultos está plenamente integrada no Brasil. Entretanto, o ensino da língua, historia e literatura russas ficou reduzido a escolinhas particulares junto as igrejas. Alguns jornais periódicos e a tipografia russa acabaram desaparecendo pois, hoje em dia, poucos da nova geração sabem ler e escrever em russo. Neste sentido, os "starovery" no Paraná, Mato Grosso e Goiás mostraram-se mais organizados e unidos entre si. Dedicam-se a lavoura com muito êxito e conservam a autenticidade russa tanto no sentido religioso-eclesiástico quanto na língua, tradições e costumes da Rússia. Seus filhos também estudam em escolas e universidades do país, mas permanecem fiéis a sua religião e seus estudos do russo, sabendo assim falar, ler e escrever em seu idioma. Raros imigrantes russos ficaram marginalizados ou dependentes de obras caritativas das igrejas. Em São Paulo, local de maior concentração da colônia russa, esta organizou três grandes e bem instalados asilos para idosos russos.

Religião
Quanto a religião, os russos são quase todos ortodoxos e, em São Paulo, inicialmente usavam o templo sírio-libanês para celebrar suas missas em eslavo eclesiástico. Todavia, logo quiseram construir a sua prpria igreja e o fizeram. Em 1930 construram a Igreja da Santíssima Trindade no bairro de Vila Alpina. Em 1935, chegou ao Brasil o bispo D. Theodosio para fundar a Diocese Ortodoxa, com sede na rua Tamandaré, onde foi então, construída a Catedral de São Nicolau. Outros templos ortodoxos ergueram-se em São Paulo e em outras localidades do Brasil (Rio, Niterói, Porto Alegre, Goiânia e Santa Rosa).Os imigrantes russos ortodoxos, pertencem no a Igreja Ortodoxa da Rússia, mas à Igreja Ortodoxa Russa no Exílio, com sede em Nova Iorque. No momento, há tentativas de se instalar no Brasil a Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscou, com nova catedral em São Paulo. Os católicos russos do Brasil são pouco numerosos e pertencem ao Ordinariato para fiéis do rito oriental, ora entregue ao Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro. Ele mantêm, desde 1950 e com muito sucesso e simpatia dos próprios ortodoxos, a Obra Ecumênica Russa, cuja realização maior foi a criação dos Institutos São Vladimir (dos Padres Jesuitas, para meninos) e Santa Olga (das Irmãs Ursulinas de rito bizantino-russo, para meninas). Estes institutos prestaram uma valiosssima contribuição na educação e instrução de língua russa, rito bizantino e folclore russo e, durante a sua existência, acolheram e educaram mais de 500 crianças filhos de imigrantes russos. A seriedade e a eficiência dos seus métodos educativos de respeito as tradições russas e de integração cultura brasileira foram muito apreciados pelos pais das crianças e por toda a colônia russa. Com o passar dos anos e advento de novas gerações estes institutos não foram mais procurados e, nos anos 90, acabaram fechando. O centro da Obra Ecumênica Russa a Igreja russa da AnunciaÇào (R. dos Sorocabanos, 150), localizada perto do monumento do Ipiranga, em São Paulo e dirigida pelo Pe. Joan Stoisser S.J. Existe também um bom numero de batistas, com culto em língua russa.

Associações Culturais
No período citado acima existiram na colônia russa muitas associações culturais de maior ou menor vulto que tiveram existências curtas e longas. Entre elas, destacaremos uma. Nos anos 70, ex-alunos dos Institutos São Vladimir e Santa Olga formaram o Grupo "Kalinka" -- um grupo de danças e canto folclórico russo - que, durante a sua relativamente curta existência, apresentou-se com muito sucesso em diversos festivais folclóricos e na TV. Infelizmente, aquela era uma época de repressão, de "caça aos comunistas" e a palavra "russo" para muitos significava "comunista". Em função disso, o Grupo "Kalinka" teve de encerrar suas atividades após 4 anos de frutífera existência.

Circulo Cultural Nadejda
Entidade cultural, fundada em 1982 em São Paulo com o objetivo de divulgar a cultura russa através de exposições e apresentações folclóricas. Para tanto criou o Grupo "Troyka" de danças típicas russas, cujos integrantes são filhos e netos de russos ou simpatizantes de sua cultura.

Grupo Russo de Danças Folclóricas "Volga"
Nos anos 80, surgiu o grupo de danças folclóricas "Volga", inicialmente formado por filhos e netos de imigrantes russos. O grupo se renova constantemente e ate hoje faz grande sucesso em suas animadssimas apresentações.

Coral "Melodia"
Em 1990, num esforço mútuo de coralistas da igrejas ortodoxas e de seu regente sr. Aleksandr Sergueevitch Politansky (in memoriam), foi criado o Coral "Melodia" cujo repertório consiste de músicas russas tradicionais, líricas, folclóricas e populares. O Coral se apresenta com sucesso em festivais beneficientes

Bibliografia: BRASIL: INTEGRAÇÃO DE RAÇAS E NACIONALIDADES do Cardeal Agnelo Rossi: Documentos do Museu do ImigranteArtigo de Vladimir V. Avrorsky, Consul Geral da Rússia, publicado no peridico DiZ No. 21


Fonte: www.news-of-russia.info

domingo, 4 de maio de 2008

Domingo de São Tomé



Ainda é o Domingo da Nova Páscoa. Os discípulos estão reunidos no Cenáculo e Jesus entra "estando às portas fechadas", trazendo-lhes a Paz (Jo 20,19). As portas trancadas do Cenáculo ainda são sinais da ausência do Mestre e do medo que todos sentiam.

Os discípulos estão reunidos na sala, onde cearam com o Senhor, na ocasião em que ele ensinou o Mandamento Novo e lavou os seus pés. O ambiente no qual aconteceu a manifestação de humildade de Jesus, ao lavar os pés dos seus apóstolos, o lugar onde foi o palco do ensinamento mais profundo sobre o amor, torna-se também o recinto do encontro entre o Ressuscitado e seus seguidores mais próximos. Parece ser o espaço cedido às grandes manifestações do divino, aonde concretizou toda a missão do Filho do Homem de maneira sucinta. O cenáculo é o lugar da Oração, o lugar da Catequese por excelência; o Cenáculo é o ambiente do esvaziamento e da humildade, é o espaço da Celebração da Eucaristia, onde Ele se oferece e é oferecido. Mais do que isso, o Cenáculo tornou-se ambiente sagrado, pois Jesus apareceu Ressuscitado, enquanto os apóstolos rezavam.

Hoje, o novo Cenáculo é a Igreja, aonde o Senhor se dá na forma de pão e vinho, Corpo e Sangue d'Ele oferecidos, no Altar, isto é, na Pedra removida da Ressurreição. Outrora os seus seguidores se reuniam no Cenáculo por medo, agora se reúnem para manifestar a grande alegria da Nova Páscoa.

São Cipriano nos ensina que a Igreja é o ambiente sagrado onde a Celebração Eucarística revive a Ressurreição de Cristo no sacrifício incruento oferecido pelo sacerdote: «O sacrifício do sacerdote é a repetição do sacrifício de Cristo na Ceia e ambos são representação do sacrifício único da Cruz».

Jesus «entra», atravessando as barreiras externas (as portas) e internas (a dúvida) daquele ambiente. A razão e a fé têm provas daquilo que Maria de Magdala anunciava tão efusivamente: «Jesus Ressuscitou!» Jesus se apresenta com os sinais da Paixão; as marcas das perfurações em seu corpo, ainda são nítidas, talvez para sacar qualquer duvida sobre sua identidade: aquele que crucificaram, estava ali. Jesus transmite os dons pascais resumidos na paz, na reconciliação e na fé, aos que estavam reunidos em seu Nome. Jesus, ao transmitir seus dons aos homens, transforma estes homens em «homens novos», em «homens pascais»; é uma nova identidade, uma maneira peculiar de ser e de agir, movidos pelo espírito da Ressurreição. Mostra-lhes as mãos e o lado com os sinais da Paixão e diz: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20, 21). Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo: "Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; a quem não os perdoardes, serão retidos" (Jo 20, 22-23). Jesus lhes dá o dom de perdoar os pecados, um dom que brota das chagas de suas mãos e de seus pés e, sobretudo, de seu lado perfurado, donde jorram os sacramentos da Igreja.

“A paz seja convosco!”: Mais do que um cumprimento, esta saudação sintetiza a própria obra redentora do Ressuscitado. Por meio da Cruz, Ele anulou a inimizade e anunciou a paz aos que estavam longe e aos que estavam perto.

Os cristãos reunidos, no «Novo Cenáculo», a Igreja, no mesmo dia da Ressurreição de Cristo, isto é, no Domingo, celebram juntos os Mistérios da Morte e Ressurreição do Filho de Deus para, ante o Mistério da Ressurreição, transformarem-se em novas criaturas, em novo homem. A Igreja Bizantina celebra a Ressurreição do Senhor, única e exclusivamente aos Domingos pela manhã, exceto nas grandes Festas, para testemunhar a seus fiéis que Jesus Ressuscitado é o «Kyrios» (Senhor), o «Dominus» (Domingo). Assim nos diz Eusébio de Cesaréia: «Nós, os filhos da Nova Aliança, celebramos a cada Domingo a nossa Páscoa e somos saciados, em todo o tempo, com o Corpo Ressuscitado do Salvador e participamos, em todo o tempo, de seu Sangue. Cada Domingo somos vivificados pelo corpo santificado do mesmo Cordeiro Pascal, que é a nossa Salvação e nossa alma é selada pelo seu precioso sangue».

Esta celebração se faz com a Comunidade de fiéis que, juntos confirmam sua fé em Deus e buscam n'Ele, através da Eucaristia, a vida Nova, força para vencer o pecado, símbolo da morte. Quando não conseguimos contemplar o Ressuscitado, fatalmente haverá a dúvida, a incerteza, os questionamentos oriundos de um coração alicerçado ainda nas raízes da “velha criação”. Foi o que aconteceu no Cenáculo, com aquele que era conhecido como o «Dídimo».

Tomé estando ausente não testemunhou a Nova Páscoa... A Igreja reunida viu o Senhor Ressuscitado no Cenáculo e comunicou a Tomé a grande notícia, mas não foi o suficiente para que ele acreditasse na voz da Igreja (Os apóstolos). Era necessário que seus olhos vissem e seus dedos tocassem as chagas.

Ainda hoje, como Tomé, muitos são os que ainda exigem as mesmas condições para crer e viver as verdades proclamadas pela Igreja. Nem mesmo o fundamental (a Ressurreição) está isento de dúvidas. Prefere-se mesclar esta verdade de fé com outras doutrinas e crenças que lhes parecem mais aceitáveis pela "razão", mais agradáveis aos sentidos. É uma necessidade infantil e ingênua acalentar uma esperança de se ter nova chance, uma nova oportunidade para se viver. Tais pensamentos geram confusão e aumenta a incredulidade. É preciso purificar o conteúdo de nossa fé cristã.

Novamente o Ressuscitado aparece, desta vez com Tomé presente, para que ele não tenha dúvidas que são de fato aquelas mãos que acolhia os pecadores e protegia as crianças, que abençoava os alimentos e retirava os espíritos impuros; são de fato os pés do Messias itinerante, do Ungido sem endereço fixo, do Missionário andarilho. Carne e ossos de uma humanidade aceita por amor, mas que estavam ali ressuscitados, elevando a dignidade humana aos patamares cobiçados até mesmo pelos anjos. O Senhor se apresenta no meio de todos, não dedicando a Tomé uma aparição exclusiva, ensinando-nos que, para aqueles de "pouca fé", a ajuda da comunidade reunida é essencial.

A dúvida, a insegurança, a incerteza e o medo nascem dos momentos onde a presença de Deus é encoberta. Basta descobri-la para nos tornarmos corajosos, desbravadores, seguros e convictos cristãos, como São Tomé, depois da aparição do Ressuscitado.

Todos nós que cremos e vivemos sob a ótica da Ressurreição de Cristo, recebemos uma nova criação, pois ela transforma nosso interior e nos faz pessoas diferentes. Assim aconteceu com Pedro, Madalena e Tomé. Antes da Ressurreição, Pedro negou Jesus por três vezes; depois, ele afirma que ama o Senhor e sofre as conseqüências deste amor: de temeroso homem, torna-se o “apascentador das ovelhas de Cristo”, missionário, evangelizador e mártir. Madalena, anteriormente, amedrontada chorava a perda de seu Mestre; agora ela torna-se a Evangelizadora por excelência, a propagadora pioneira da Boa Nova. Tomé, da boca que proferia palavras de descrença e dúvidas, verbaliza a mais bela exclamação de reconhecimento perante o Jesus Ressuscitado: «meu Senhor e meu Deus».



Fonte: Ecclesia

sábado, 3 de maio de 2008

Áustria Adverte Turquia: A Liberdade Religiosa Deve ser Total e Irrestrita

O Ministro das Relações Exteriores da Áustria, Ursula Plassnik, em sua visita à Turquia, aproveitou a oportunidade para prestar uma homenagem ao Patriarca Ecumênico Bartolomeu I e de manifestar o seu apoio ao trabalho de Sua Santidade em fazer da Turquia uma nação de liberdade religiosa. O Ministro falou aos turcos que o Patriarca Bartolomeu tem se esforçado pessoalmente na construção de um mundo onde as pessoas possam praticar livremente – sem medo – suas crenças religiosas e até mesmo de não professar nenhum credo.

“Penso que este deve ser o conceito de liberdade religiosa a ser adotado e garantido na vida social da União Européia. A liberdade religiosa é uma das pressuposições do conjunto de valores e dos ideais da Europa e condição imposta para qualquer nação que deseja participar da União Européia”, disse o Ministro.

Sábado Luminoso

«Os que tinham sido seus companheiros estavam no luto e em lágrimas… Ele disse-lhes: ‘Ide por todo o mundo anunciar a Boa Nova’»

Não estejamos presos às coisas deste mundo; que os bens da terra não desviem o nosso olhar do céu. Tomemos por passado o que já não é praticamente nada; que o nosso espírito, agarrado ao que deve viver, fixe o seu desejo nas promessas de eternidade. Embora sejamos ainda “salvos na esperança” (Rom 8,24), embora possuamos ainda uma carne sujeita á corrupção e à morte, podemos com certeza afirmar que podemos, no entanto viver fora da carne, se escaparmos à influência das suas paixões. Não, nós não merecemos mais o nome desta carne da qual nós fizemos por calar os apelos…

Que o povo de Deus tome, portanto consciência que ele é «uma criatura nova em Cristo» (2Cor 5,17). Que compreenda bem quem o escolheu, e quem ele próprio escolheu. Que o novo ser não retorne á inconstância do seu estado velho. Que «aquele que pôs a mão no arado» (Lc 9,62) não cesse de trabalhar, que vele pelo grão que semeou, que não retorne ao passado que abandonou. Que ninguém volte a cair na degradação da qual se separou. E se, porque a carne é fraca, alguém sofre ainda de uma das suas doenças, que tome a firme resolução de se curar e de se engrandecer. Esta é a via da salvação; esta é a forma de imitar a ressurreição começada em Cristo…

Que os nossos passos deixem as areias movediças para caminhar sobre a terra firme, porque está escrito: «O Senhor firma os passos do homem e compraz-se nos seus caminhos. Mesmo que caia, não ficará por terra, porque o Senhor lhe estenderá a mão» (Sl 36,23s).Irmãos bem amados, guardai bem estas reflexões no vosso espírito, não apenas para celebrar as festas da Páscoa, mas para santificar toda a vossa vida.

S. Leão Magno (? – cerca 461), papa de Roma
Sermão 58, o vigésimo sobre a Paixão

Sexta-Feira Luminosa

Aquele que perscruta no mais íntimo dos corações (Sl 7,10) sabendo que Maria lhe reconhecerá a voz, chamava a sua ovelha pelo nome, como fazem os pastores (Jo 10,4), dizendo: «Maria!» Ela logo responde: «Sim, é o meu pastor quem me chama, Ele vem à minha procura e quer contar comigo, acrescentando-me às suas noventa e nove ovelhas (Lc 15,4). Vejo atrás d’Ele legiões de santos, exércitos de justos […]. Sei bem quem Ele é, Este que me chama; tinha-o dito, é o meu Senhor, é Aquele que oferece a ressurreição aos pecadores.

Levada pelo fervor do amor, a jovem mulher quis deter Aquele que completou toda a criação […]. Mas o Criador […] ergueu-a até ao mundo divino, dizendo: «Não me detenhas; Pensas que sou um simples mortal? Eu sou Deus, não me detenhas […] Ergue os olhos ao céu e olha o mundo celeste; é aí que Me deves procurar. Porque eu subo para o meu Pai, que não abandonei. Estive sempre com Ele desde o início dos tempos, partilho o seu trono, recebo as mesmas honras, Eu, que ofereço aos pecadores a ressurreição.

Que de ora em diante a tua língua proclame estas coisas e as explique aos filhos do Reino que esperam que Eu desperte; Eu sou Aquele que vive. Vai depressa, Maria, reúne os meus discípulos. Serás uma trombeta de som poderoso; toca um canto de paz aos ouvidos temerosos dos meus amigos escondidos, desperta-os a todos desse seu sono, para que venham ao meu encontro. Diz-lhes: ‘O Esposo acordou, saiu do seu túmulo. Apóstolos, deixai essa tristeza mortal, porque Ele ergueu-Se, Aquele que oferece aos pecadores a ressurreição’» […]

Maria exclama : «E de repente o meu luto fez-se júbilo, em tudo vi alegria. Não hesito em dizê-lo: recebi glória igual à de Moisés (Ex 33,18s). Vi, ouvi, vi, não no monte, mas no sepulcro, velado não pela nuvem, mas por um corpo, o Senhor dos seres incorpóreos e das nuvens, seu Senhor de ontem, de agora e de todo sempre. Ele disse-me: ‘Maria, apressa-te! Como pomba que em seu bico leva um raminho de oliveira, vai anunciar a boa nova aos descendentes de Noé (Gn 8,11). Diz-lhes que a morte foi aniquilada e que ressuscitou Aquele que aos pecadores oferece a ressurreição’».


S. Romano, o Melodista (? – c.560), Hino 40

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quinta-Feira Luminosa


Muitas pessoas acreditam na ressurreição de Cristo mas poucas têm dela uma visão clara. Como é que aqueles que não a testemunharam podem adorar a Cristo como Santo e como Senhor? Com efeito, está escrito: "Ninguém pode dizer 'Jesus é o Senhor' senão pelo Espírito Santo" (1 Co 12,3), e também: "Deus é Espírito e os que O adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade" (Jo 4,24)... Como é que, então, o Espírito Santo nos incita a dizer hoje [na liturgia]: "Nós vimos a ressurreição de Cristo. Adoremos o Santo, o Senhor Jesus, o único que não tem pecado"? Como é que ela nos convida a afirmá-lo, como se o tivéssemos visto? Cristo ressuscitou uma só vez, há mil anos, e mesmo nessa altura ninguém O viu ressuscitar. Será que a Sagrada Escritura quer que mintamos?

Nunca na vida! Pelo contrário, ela exorta-nos a atestarmos a verdade, esta verdade que, em cada um de nós, seus fiéis, emana da ressurreição de Cristo e, isso, não uma só vez mas hora a hora, por assim dizer, sempre que o Mestre em pessoa, Cristo, ressuscita em nós, vestido de branco e fulgurante nos raios da incorruptibilidade e da divindade. Porque a luminosa vinda do Espírito faz-nos entrever, como naquela manhã, a ressurreição do Mestre, ou antes, dá-nos a graça de O vermos a Ele mesmo, Ele, o ressuscitado. É por isso que cantamos: "O Senhor é Deus e apareceu-nos" (Sl 117,27) e, aludindo à sua segunda vinda, acrescentamos: "Bendito O que vem em nome do Senhor" (v.26)... É, pois, espiritualmente, aos olhos do nosso espírito, que Ele Se mostra e Se faz ver. E, quando isso se produz em nós pelo Espírito Santo, Ele ressuscita-nos dos mortos, vivifica-nos e dá-se a Si mesmo a ver, inteiro, vivo em nós, Ele o imortal e o eterno. Dá-nos a graça de O conhecermos claramente, Ele que nos ressuscita consigo e nos faz entrar com Ele na sua glória.

S. Simeão, o Novo Teólogo (c. de 949-1022),
Catequese 13

quarta-feira, 30 de abril de 2008

terça-feira, 29 de abril de 2008

Terça-Feira Luminosa

Eis uma máxima sábia: "No dia da felicidade, esquecemos todos os males" (Si 11,25). Hoje foi esquecida a sentença lançada sobre nós, melhor, não foi esquecida mas anulada! Este dia apagou completamente qualquer lembrança da nossa condenação. Outrora, o parto passava-se na dor; agora, o nosso nascimento é sem sofrimento. Outrora não éramos senão carne, nascíamos da carne; hoje o que nasce é espírito, nascido do Espírito. Ontem, nascíamos simples filhos dos homens; hoje nascemos filhos de Deus. Ontem, éramos os rejeitados dos céus sobre a terra; hoje, Aquele que reina nos céus faz de nós cidadãos do céu. Ontem a morte reinava por causa do pecado; hoje, graças à Vida, é a justiça quem toma o poder.

Um único homem abriu-nos outrora as portas da morte; hoje, um único homem traz-nos de novo à vida. Ontem, perdemos a vida por causa da morte; mas hoje a Vida destruiu a morte. Ontem, a vergonha fazia-nos esconder debaixo da figueira; hoje, a glória atrai-nos para a árvore de vida. Ontem, a desobediência tinha-nos expulsado do Paraíso; hoje, a nossa fé faz-nos entrar nele. De novo nos é oferecido o fruto da vida para que o saboreemos tanto quanto quisermos. De novo a nascente do Paraíso, cuja água nos irriga pelos quatro rios dos evangelhos (cf Gn 2,10), vem refrescar todo o rosto da Igreja...

Que devemos fazer agora, senão imitar, nos seus saltos jubilosos, as montanhas e as colinas das profecias: "Montanhas, saltai como carneiros; e vós, colinas, como cordeiros!" (Sl 113,4) Vinde, pois, gritemos de alegria no Senhor! (Sl 94,1) Ele quebrou o poder do inimigo e ergueu o grande troféu da cruz...
Digamos, pois: "Grande é o Senhor nosso Deus, um grande rei em toda a terra!" (Sl 94,3; 46,3) Ele abençoa o ano coroando-o com os seus benefícios (Sl 64,12) e reune-nos num coro espiritual, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amen!
São Gregório de Nissa

São Basílio


Hoje celebramos São Baílio, Bispo de Zakholmsk.
São Basílio nasceu em uma família piedosa, no séc. XVI, em Popo, distrito da Herzegovina. Ao se tronar adulto, São basílio deixou o seu lar para abraçar a vida monástica. Por sua piedade notória, foi eleito bispo de Zakholm e Skenderia. O santo no exercício do seu episcopado deu provas de sua santidade por meio dos muitos milagres que ele operou, belo bom pastor que ele foi e por sua sabedoria. São Basílio morreu em paz e foi enterrado na cidade de Ostrog na Chernogoria, fronteira com a Herzegovina.

O Milagre do Fogo em Jerusalém



Milhares de fiéis ortodoxos lotaram a Igreja da Ressurreição (Santo Sepulcro) na noite do sábado durante a Vigília Pascal, para celebrar a ressurreição de Cristo e para ver o Milagre do Fogo Sagrado (ver na coluna ao lado os vídeos da cerimônia). A cidade de Jerusalém também teve suas ruas tomadas por fiéis das Igrejas Coptas (do Egito e Etiópia) e da Igreja Assíria que acorreram para ver a cerimônia sagrada.

O Milagre do Fogo Sagrado ocorre desde o século VIII e atualmente é motivo de "orgulho" dos Ortodoxos, pois, desde a separação entre a Igreja do Oriente e do Ocidente, o milagre só acontece nas cerimonia ortodoxa e, por esta causa, cristãos de outras igrejas disputam (às vezes de maneira tumultuada) um lugar na Igreja.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Segunda-Feira Luminosa

A partir do momento em que nosso Senhor ressuscitou dos mortos e os apóstolos foram revestidos com a força do alto pela vinda do Espírito Santo (Lc 24,49), eles ficaram cheios de certeza a propósito de tudo e receberam o perfeito conhecimento. Então, foram até às extremidades da terra (Sl 18,5), proclamando a Boa Nova que nos vem de Deus e anunciando aos homens a paz do céu, eles que possuíam - todos por igual e cada um em particular - o Evangelho de Deus.

Assim, Mateus, no meio dos Hebreus e na sua própria língua, publicou uma forma escrita do Evangelho, enquanto Pedro e Paulo evangelizavam Roma e aí fundavam a Igreja. Após a morte deles, Marcos, discípulo de Pedro e seu intérprete (1Pe 5,19), transmitiram-nos também por escrito a pregação de Pedro. Por seu lado, Lucas, companheiro de Paulo, consignou num livro o Evangelho pregado por este. Por fim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que tinha repousado sobre o seu peito, publicou também ele o Evangelho, durante a sua estadia em Éfeso...

Marcos, intérprete e companheiro de Pedro, apresentou assim o início da sua redação do Evangelho: «Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Tal com está escrito nos profetas, "eis que envio o meu mensageiro diante de ti para preparar o teu caminho"»... Como se vê, Marcos faz das palavras dos santos profetas o início do Evangelho, e aquele que os profetas proclamaram como Deus e Senhor, Marcos põe-no logo a abrir como Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... No fim do Evangelho, Marcos diz: «E o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi levado aos céus e sentou-se à direita de Deus». É a confirmação da palavra do profeta: «Oráculo do Senhor ao meu senhor: Senta-te à minha direita e eu farei dos teus inimigos escabelos para os teus pés» (Sl 109,1).

Santo Ireneu de Lyon

domingo, 27 de abril de 2008

CRISTO RESSUSCITOU!



Cristo ressuscitou! Em verdade ressuscitou!
Cristo ressuscitou! Em verdade ressuscitou!
Cristo ressuscitou! Em verdade ressuscitou!

Tu desceste ao mais profundo da terra
e partiste os ferrolhos eternos
que detinham os cativos, ó Cristo
e, ao terceiro dia, como Jonas do ventre da baleia,
tu saíste do tumulo.

Cristo ressuscitou dos mortos!

Permanecendo selada a pedra do tumulo,
dele te levantaste, ó Cristo,
tu que, ao nascer, não havias violado o seio da Virgem
e abriste-nos as portas do Paraíso.

Cristo ressuscitou dos mortos!

Meu Salvador Vítima viva e não imolada
que, como Deus te ofereceste voluntariamente a teu Pai,
Tu que ressuscitando do tumulo,
ressuscitaste contigo Adão e toda tua linhagem.

Cristo ressuscitou dos mortos!

É o sol anterior ao sol, outrora descido ao túmulo,
que, antecedendo a aurora, as virgens portadoras de aromas
procuravam ao romper do dia.
Diziam elas entre si;
“com os nossos aromas vamos ungir o corpo
vivificante e sepultado,
a Carne que ressuscita Adão caído
e que está deitado em seu Sepulcro.

Vamos apressemo-nos, como os magos,
e ofereçamos como dons os aromas
Àquele aquele que está envolto
não em faixas, mas em um sudário
e choremos e gritemos: Senhor levanta-te
tu que concedes a ressurreição aos que sucumbiram.

No santo e grande Domingo de Páscoa,
nós festejamos a vivificante Ressurreição
de Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo.

Descendo Cristo, só para lutar com o inferno,
dele subiu levando numeroso espólio, fruto de sua vitória.
A Ele a glória e o poder, pelos séculos dos séculos. Amém.

Testemunhas da Ressurreição de Cristo,
adoremos o Senhor Jesus, o Único Santo, o único sem pecado.

Nós veneramos a tua cruz, ó Cristo,
nós cantamos e glorificamos a tua santa Ressurreição,
pois Tu és o nosso Deus e nós não conhecemos outro.
É o teu Nome que nós invocamos.

Vinde fiéis adoremos todos a santa Ressurreição de Cristo,
pois eis que a Cruz trouxe a alegria ao mundo inteiro.

Bendizendo eternamente o Senhor,
nós cantamos a sua ressurreição,
pois tendo aceito a Cruz por nós,
pela morte Ele venceu a morte. (3 vezes)

Jesus, tendo saído do túmulo como havia predito,
concedeu-nos a vida eterna e a sua grande misericórdia.

Homilia de São João Crisóstomo

Discurso catequético sobre a Páscoa de nosso Pai entre os Santos, João Crisóstomo.

Quem tiver piedade e amor a Deus, regale-se nesta gloriosa e brilhante festa; quem for servo bom, entre alegre no gozo de seu Senhor; quem suportou a fadiga do jejum, receba agora a sua remuneração; quem trabalhou desde a primeira hora, receba hoje o seu justo salário; quem veio após a terceira hora, festeje com gratidão; quem chegou após a sexta hora, entre sem hesitar, porque não será castigado; quem atrasou-se até a nona hora, venha sem receio; quem chegou somente na undécima hora, não tenha medo por causa de sua demora, porque o Senhor é generoso, acolhe o último como o primeiro; remunera o operário da undécima hora como o da primeira; cobre um com sua misericórdia e outro com sua graça; a um dá, a outro perdoa; aceita as obras e abençoa a intenção; recompensa o trabalho e louva a boa vontade. Entrai, pois, todos no gozo de nosso Senhor; primeiros e últimos recebei a recompensa; ricos e pobres, alegrai-vos juntos; justos e pecadores, honrai este dia; vós que jejuastes e vós que não jejuastes, regozijai-vos uns com os outros; a mesa é farta, saciai-vos à vontade; o vitelo é gordo, que ninguém se retire com fome; tomai todos parte no banquete da fé; participai todos da abundância da graça; que ninguém se queixe de fome, porque o reino universal foi proclamado; que ninguém chore por causa de seus pecados, porque o perdão jorrou do túmulo; que ninguém tema a morte, porque a morte do Salvador nos libertou a todos.

(O Salvador) destruiu a morte, quando a ela se submeteu; despojou o inferno, quando nele desceu; o inferno tocou seu corpo e foi aniquilado.
Foi isto que profetizou Isaías, exclamando: “o inferno foi aniquilado e arruinado; aniquilado e menosprezado, aniquilado e executado, aniquilado e espoliado, aniquilado e subjugado. Agarrou um corpo e encontrou um Deus; apossou-se da terra e achou-se defronte ao céu; pegou no que viu e caiu donde não viu”.

Onde está tua vitória, ó inferno? Onde está o teu aguilhão, ó morte? Cristo ressuscitou e foste arrasada: Cristo ressuscitou e os demônios foram vencidos; Cristo ressuscitou e os anjos rejubilaram-se; Cristo ressuscitou e a vida foi restituída; Cristo ressuscitou e não ficou morto nenhum no túmulo, porque Cristo, pela sua ressurreição dos mortos, tornou-se primícias de todos os mortos.

sábado, 26 de abril de 2008

GRANDE SÁBADO SANTO



Na Ortodoxia o “Grande Sábado Santo” é assim chamado, não só porque neste dia Cristo estava fisicamente na tumba, mas, também, porque em Espírito desceu ao Inferno para de lá resgatar e levar para o Paraíso os que no Hades se achavam cativos.

As matinas do Grande Sábado Santo (a qual geralmente acontece na sexta-feira à noite para que uma maior número de pessoas possa participar) assume a forma de um serviço funerário para Cristo. O ofício inteiro acontece em volta do Epitáfio (esloveno: Plashchanitza), um ícone na forma de um pano bordado com a imagem de Cristo sendo preparado para enterro. A primeira parte do serviço consiste na leitura do Salmo 118(119) - o salmo mais longo na Bíblia – entremeado pelo canto de hinos (enkomia). O tema predominante do serviço não é tanto um clima de luto, mas de expectativa alerta:


“Hoje Tu santificaste o sétimo dia
que outrora abençoaras ao cessares toda a obra;
Tu reanimas todas as coisas, ó meu Salvador,
e as renovas observando o sábado
e reconquistando tudo para ele.”

Na parte conclusiva do ofício, entoam-se os Louvores da Grande Doxologia, o Epitáfio é levado em procissão realizada em torno do lado de fora do templo, enquanto todos cantam o Trisagion, exatamente como se faz no fim de um ofício funerário Ortodoxo.

Veja os ofícios do Grande Sábado Santo:




sexta-feira, 25 de abril de 2008

GRANDE SEXTA-FEIRA SANTA (HORA NONA)



Mestre e Senhor Jesus Cristo nosso Deus, que Te mostraste paciente diante de nossas faltas, e nos conduziste até a hora presente, onde sobre a Cruz vivificante abriste ao ladrão arrependido a porta do Paraíso. Tu que pela morte destruíste a morte, tem piedade de nós pecadores, teus indignos servos; pois nós pecamos, cometemos a iniquidade, e não somos dignos de levantar os olhos e olhar ao alto, para o céu, tendo abandonado a via da justiça e marchado sobre os desejos de nossos corações. Mas na Tua inefável bondade, concede-nos a Tua graça Senhor, e na Tua infinita Misericórdia, salva-nos, pois nossos dias passam vãmente. Livra-nos da mão do Inimigo, mortifica nossos pensamentos carnais, a fim de que despojados do homem velho, nos revistamos do novo e vivamos por Ti, nosso Mestre e Defensor; concede-nos que ao cumprir-mos os Teus preceitos, alcancemos o Repouso Eterno, lá onde os justos permanecem na alegria. Pois Tu és na verdade a jóia e a alegria daqueles que Te amam, Cristo nosso Deus, e nós Te glorificamos assim como ao teu Pai Eterno e a teu bom e vivificante EspíritO, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.


Oração de São Basílio
Ofico da Hora Nona

GRANDE SEXTA-FEIRA SANTA (HORA SEXTA - MEIO-DIA)

 

Deus, Senhor Todo-Poderoso e artesão de toda criação, que na imensidão de Tua incomparável Misericórdia enviaste Teu Filho único nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação do gênero humano, e que pela sua preciosa Cruz livrou-nos dos ferrolhos eternos, e triunfou sobre os principados e os poderes das trevas, Tu, Senhor amigo dos homens, aceita as nossas orações de reconhecimento e de súplica, pecadores que somos. Protege-nos contra toda queda funesta e tenebrosa, e contra todos aqueles que procuram nos fazer mal, nossos inimigos visíveis e invisíveis. Perfura a nossa carne com os cravos de teu temor, e não inclina nossos corações para palavras ou pensamentos perversos, mas fere a nossa alma de Teu desejo, afim de que todos os dias elevemos nossos olhos até Ti, guiados pela Luz que vem de Ti, e com o nosso olhar posto em Ti, Luz inacessível e eterna, te louvamos e oferecemos uma ação de graças incessante, Pai eterno, assim como ao Teu Filho único e ao Teu Espírito Santo bom e vivificante. Eternamente agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.

Oração de São Basílio, o Grande

Ofício da Hora Sexta

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Tríduo Conclusivo da Semana Santa

O escritor ortodoxo russo, V. llyne, num de seus livros escreveu que o conjunto dos ofícios dos últimos três dias da Grande semana são a “resposta de amor da Igreja Esposa ao amor sacrifical e redentor do Cristo seu Esposo, a recepção solene da cruz, do evangelho, do cálice eucarístico e da glória da ressurreição que ilumina.”

São inúmeros e extensos os temas tratados pelo “próprio” litúrgico desses dias e não é fácil resumi-los. Limitar-nos-emos acenando a alguns textos seguindo os ofícios dia por dia.
O Sinaxário, na Quínta-feíra santa, diz:

“Hoje celebramos o santo Lava-pés, a Ceia mística, a sublime oração e a traição.”

O tropário principal, cantado três vezes nas Matinas, sublinha os dois primeiros temas:

“Enquanto os gloriosos discípulos eram iluminados, na hora do lava-pés da Ceia, o pérfido Judas mergulhava nas trevas da sua avareza e tramava entregar a ti, o juiz justo, nas mãos de juízes iníquos. Olhe só este homem, que por amor do dinheiro acaba se enforcando! Foge (ó fiel) do cobiçoso, que tanto ousou contra o Mestre! Senhor, que és bom com todos, glória a ti!”

Observem a expressão “os discípulos iluminados no Lava-pés;” lembrando que o Batismo no Oriente é chamado o sacramento da “Iluminação,” há quem afirme que na hora em que Cristo lavou os pés a seus apóstolos, estes receberam o sacramento do batismo antes da ceia eucarística.

A divina liturgia (missa) é celebrada conforme o formulário de São Basílio, usado somente dez vezes durante o ano. Ele é mais extenso que o formulário de São João Crisóstomo, usado habitualmente. O evangelho que se proclama é composto de uma série de trechos extraídos dos vários evangelistas, sendo a perícope mais longa do ano e compreende a narração completa da última Ceia, a traição de Judas e a prisão noturna de Jesus, que estava em oração no jardim das Oliveiras. O hino dos Querubins e a antífona da comunhão são substituídas por um canto cujo texto é usado quotidianamente como oração preparatória à comunhão. Eis as palavras:

“Ó Filho de Deus, recebe-me neste dia na tua mística ceia: eu não desvendarei os mistérios aos teus inimigos; nem te darei um beijo como Judas, mas como o ladrão arrependido, eu te peço: lembra-te de mim, Senhor, quando entrares no teu Reino.”

Essa última frase é muito conhecida dos fiéis orientais, usada outrossim como versículo responsorial durante a recitação das Bem-aventuranças evangélicas. Como também “Divinos mistérios” usa-se freqüentemente como sinônimo da eucaristia.

A cerimônia do lava-pés, que se faz logo em seguida, é reservada somente às igrejas catedrais onde o bispo lava os pés de doze sacerdotes; e nas sedes mais importantes, a cada três ou quatro anos durante a Liturgia se faz a santificação do sagrado crisma (myron).

Na noite da quinta-feira santa, antecipa-se o ofício das Matinas da sexta-feira santa, isto é, o Ofício dos Doze Evangelhos da Paixão, com grande participação dos fiéis que escutam a leitura segurando na mão uma vela acesa. O Evangeliário é levado solenemente no meio da igreja, instalado numa estante especial e incensado; e daquele lugar é feita a leitura. Depois de cada evangelho os fiéis cantam:

“Glória à tua compaixão (os eslavos cantam: 'à tua grande paciência'), Senhor!”

Lindos os textos litúrgicos que se intercalam, entre outros apresentamos o que se canta após o quinto evangelho:

“Hoje foi suspenso no madeiro aquele que suspendeu a terra sobre as águas. Com uma coroa de espinhos foi coroado o Rei dos Anjos. Foi envolvido numa púrpura mendaz aquele que envolve o céu em nuvens. Foi esbofeteado aquele que salvou Adão no Jordão. Foi perfurado por cravos o Esposo da Igreja. Foi transpassado pela lança o Filho da Virgem. Adoramos a tua paixão, ó Cristo; oh!, mostra-nos também a tua ressurreição!”

Na Grande sexta-feira não se celebra nem a liturgia eucarística nem a dos Pré-santificados. As Horas de prima, terça, sexta e nona tornam-se Horas régias; cada uma delas se compõe de três salmos completos, três leituras bíblicas e outros hinos litúrgicos. O kontákion repetido a todas as Horas tem um caráter mariano:

“Vinde todos celebrar quem por nós foi crucificado! Ao vê-lo no madeiro Maria dizia: Embora carregues a cruz, tu és o meu Filho e o meu Deus.”

Às Vésperas, em que se fazem três leituras vetero-testamentárias e a leitura do evangelho (composição de trechos tirados de Mateus, Lucas e João), segue-se o rito da Sepultura. O celebrante incensa três vezes cada lado do santo Epitáphion, retângulo de pano que leva pintada e bordada a figura do Cristo Morto, chegando às vezes ao tamanho natural. O Epitáphion, após colocado sobre o altar, é depositado sobre uma mesa (ou túmulo) adrede, preparada no centro da igreja, e onde permanecerá até o início da vigília pascal. O povo vai numeroso venerar o Cristo Morto, colocando flores em profusão e beijando o livro dos evangelhos e as chagas de Cristo, enquanto o rosto dele está coberto por um véu. Cantam-se dois tropários: o primeiro lembra a deposição feita pelo “nobre José” do “corpo imaculado” de Jesus no “sepulcro novo,” enquanto que o segundo é já um prenúncio da ressurreição.

Chega o grande e santo Sábado no qual – citando o que diz o livro litúrgico, — “se celebra o sepultamento do corpo divino e a descida ao reino dos mortos do Senhor, Deus e Salvador nosso Jesus Cristo.” A parte mais característica das celebrações é o ofício das Matinas (= órthros) com os célebres Enkómia, tão queridos pela piedade popular ortodoxa. Em geral tal ofício é antecipado para a noite da sexta-feira santa. É típico das culturas mediterrâneas, ao velar o morto, tecer o elogio, a lamentação e a exaltação do falecido. Junto ao sepulcro do Cristo, representado no Epítáphion, a liturgia sugere elogios e lamentações, intercaladas a versículos do salmo 118 e a outros textos de grande profundeza espiritual e beleza artística, entre os quais numerosos são os de cunho mariano. Além dos dois tropários já cantados no fim das Vésperas, acrescenta-se o seguinte:

“Quando desceste à morte, ó Vida imortal, então o hades foi morto pelo fulgor da tua divindade; quando fizeste ressurgir os mortos das profundezas dos abismos, as potências celestes cantavam: ó Cristo nosso Deus, doador da vida, glória a ti!”

Os temas que mais ocorrem nas celebrações litúrgicas do sábado santo são a morte e a espera, o pranto e o louvor ao Doador da vida. Unida ao ofício das Vésperas, que contém cerca de 15 leituras bíblicas (desde Gênesis, Êxodo, Josué, Isaías, Sofonias, Jeremias, Daniel). está a liturgia eucarística de São Basílio. É uma liturgia batismal; de fato, em lugar do Triságio, antes da epístola, se canta por três vezes um versículo de São Paulo aos Gálatas (3:27): “Vós todos, que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Aleluia!”
Não é raro encontrar, nas composições litúrgicas do Oriente, textos que exprimem em forma de diálogo os sentimentos dos protagonistas. Eis um exemplo de como o mesmo Jesus se exprime:

“Não chores por mim, ó Mãe, ao ver no túmulo o Filho que sem sêmen concebeste em teu seio. Ressurgirei, de fato, e serei glorificado e, sendo Deus, elevarei à glória sem cessar os que te exaltam com fé e amor.”

Madre Maria Donadeo
Editora Ave-Maria, O Ano Litúrgico Bizantino

Quarta-feira santa (tarde e noite)

O principal tema da Quarta-feira santa é a necessidade humana de receber a cura e o perdão que adentram nossas vidas quando estabelecemos uma relação com Deus através de Jesus Cristo. Somos lembrados que encontramos o caminho para este relacionamento, acima de tudo, através de uma vida de oração. No sacramento da Unção do Santo Óleo os fiéis são ungidos, e assim, curados física e espiritualmente. Eles também se reconciliam com Deus e uns com os outros a fim de receber o sacramento da Santa Eucaristia instituída por Cristo na Última Ceia.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Acerca das Grandes e Santas Segunda, Terça e Quarta-Feira


A última semana da vida terrena de Cristo é chamada de Semana da Paixão, ou em termos populares de Semana Santa. Os livros litúrgicos denominam os dias dessa semana como “Grande” e “Santo” (por exemplo: A Grande Segunda-feira Santa, a Grande Terça-feira Santa, etc). Diariamente (pela manhã e à tarde) são celebrados ofícios nos dias dessa semana. Os fiéis deixam seus afazeres cotidianos para “subirem a Jerusalém com o Senhor” (Matinas da Grande Segunda-Feira Santa.

Cada dia da semana tem seu próprio tema. O tema da segunda-feira é o da “Figueira Estéril”, a qual por não dar fruto é condenada. A ênfase da terça-feira recai sobre as “Virgens Prudentes e Vigilantes”, as quais, ao contrário de suas irmãs insensatas, encontram-se prontas quando à meia-noite chega o Senhor delas. O enfoque da quarta-feira está no arrependimento da “Mulher Pecadora”. Os ofícios deste dia dão grande ênfase na comparação entre esta mulher, uma pecadora que se salva, e Judas, o “Filho da perdição”. Ela oferece todos os seus bens a Cristo e lhe beija os pés, enquanto Judas, com um beijo sela sua traição a Cristo em troca de dinheiro.

Em cada um desses três dias se faz a leitura dos Evangelhos nos ofícios das Horas Reais, assim como nas Vésperas, onde se celebra a Liturgia dos Dons Pré-Santificados. As leituras do Velho Testamento são retiradas dos livros de Êxodo, Jó e do Profeta Ezequiel. Também o Evangelho é lido nas Matinas, ofício que tradicionalmente é chamado de “Ofício do Esposo”, pois o tema de cada um desses dias é o fim do mundo e o juízo final. É comum celebrar o Ofício do Esposo durante a noite.

"Eis que vem o Esposo no meio da noite.
Feliz o servo que ele encontrar acordado;
infeliz, porém, do que ele encontrar dormindo!
Vê, portanto, ó minha alma, não te deixes vencer pelo sono,
a fim de que não sejas entregue à morte
e fiques fora das portas do reino.
Mas, vigilante, grita: Santo, Santo, Santo és tu, ó Deus!
Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!"
(Tropário dos primeiros três dias da Semana Santa).

Durante os três primeiros dias da semana a Igreja recomenda a leitura completa dos quatro Evangelhos, durante os ofícios das Horas Reais, desde o primeiro capítulo até o relato da Paixão de Cristo. Embora isto seja praticamente inviável em se tratando das paróquias, geralmente procura-se ler pelo menos um dos Evangelhos na íntegra, privadamente ou em comunidade, antes do Grande Sábado Santo.
Pe. Alexander Schmemann

Reflexões Sobre a Semana Santa: terça-feira (noite)

A necessidade de um arrependimento sincero e verdadeiro é o cerne do ofício da noite de Terça. A transformação de uma vida de pecado em uma vida de fé e obediência nos é exemplificada na figura da pecadora que recebeu o dom do perdão quando derramou mirra sobre Jesus e lavou Seus pés. O destaque do ofício é o hino de Cassiane. A meditação do evangelho pre diz a aproximação do sofrimento de Cristo e nos recorda de Sua agonia e conflito.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Reflexões Sobre a Semana Santa

Apresentaremos ao longo da Semana Santa reflexões sobre os oficíos diários que são celebrados nas Igrejas Ortodoxas, em textos traduzidos por Ricardo Williams G. Santos e originalmemte publicados no sítio de Ecclesia.

Os ofícios da Semana Santa fazem de nós testemunhas e participantes imediatos dos eventos da Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo. Nas leituras do Velho e do Novo Testamento, nos hinos, procissões e celebrações litúrgicas ve mos o cumprimento das profecias messiânicas e as ações pelas quais o próprio Deus, na pessoa de Jesus Cristo, nos dá o perdão de nossos pecados e nos resgata da dor da morte eterna.

Domingo de Ramos
O ofício deste dia nos recorda do início do sofrimento de Jesus. O evangelho descreve a conspiração dos anciãos e sacerdotes para forçar Jesus a dizer que Ele é um herege. Através de parábolas, Cristo nos fala sobre sua traição, julgamento, condenação e execução na cruz. Os hinos desse ofício celebram duas coisas: a primeira, a figura profética de José que, embora um homem virtuoso, sofreu injustamente nas mãos de seus irmãos antes de receber uma grande recompensa, e a segunda, a parábola da figueira, que ao deixar de dar frutos, tornou-se um símbolo da criação decaída, e de nossas próprias vidas, nas quais falhamos ao gerar frutos espirituais.

Segunda-feira Santa (noite)
Essa noite fala sobre a necessidade de vigília e preparação, para que não estejamos despreparados quando formos chamados perante o julgamento no tribunal temível de Cristo para prestar contas de nossos atos em vida. A leitura do evangelho contrasta os esforços dos Fariseus em lograr e desacreditar Jesus contra a forte resistência de Cristo contra sua maldade. Os hinos nos recordam da parábola das dez virgens, que exortam o cristão fiel à manter-se em eterna vigília.

Patriarca Aléxis II Responde a Teólogos e Intelectuais Muçulmanos


O Patriarca Aléxis II publicou sua resposta à carta das lideranças islâmicas (relifgiosos e intelectuais) enviada a todos os chefes e presidentes das igrejas e organizações cristãs. O texto da carta enviada pelos muçulmanos está assinado por 138 teólogos e intelectuais. A resposta Patriarcal foi publicada em em russo e em inglês. Estamos providenciando uma tradução a partir do texto em inglês, por enquanto, divulgamos parcialmente o texto traduzido para o português.

"Agradeço a todos os líderes Islâmicos - religiosos e intelectuais – que se dirigem em carta aberta aos representantes das igrejas e organizações cristãs, inclusive ao Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa.

Os cristãos e os muçulmanos possuem muitos objetivos em comum, e podemos unir nossas forças para os alcançar. Mas esta união não poderá subsistir se não clarificarmos nosso entendimento sobre os valores religiosos um do outro. Partindo deste princípio, recebo com alegria a proposta da comunidade muçulmana de que seja estabelecido um diálogo sincero e aberto com representantes das igrejas cristãs de natureza acadêmica e intelectualmente honesta.

Cristianismo e Islã estão hoje engajados em uma tarefa de grande importância para o mundo. Eles buscam fazer com que a humanidade se conscientize da existência de Deus e da dimensão espiritual do homem e do mundo. Juntos testemunhamos que paz e justiça, moralidade e lei, verdade e amor, são realidades interdependentes.

Como os senhores muito bem afirmam em sua correspondência, cristãos e muçulmanos são concordes de que o maior mandamento é amar a Deus e ao próximo. Ao mesmo tempo, não acredito que identificar certos pontos que são teologicamente basilares para a vida religiosa, seja o suficiente para fixar uma convergência de fé. Qualquer afirmação no Cristianismo ou no Islã não pode ser vista de forma isolada do sistema teológico que cada um elabora. Caso contrário, a identidade religiosa de ambos estará ameaçada, gerando uma confusão da fé de ambos. Penso ser mais frutífero o estudo dos sistemas teológicos de cada um e compará-los.

No Cristianismo é impossível falar sobre amar a Deus e ao próximo dissociado daquilo que cremos sobre Deus. De acordo com a revelação do Novo Testamento, Deus se revela ao homem como Amor. “Quem não ama, não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 João 4:8). “E nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor e quem está em amor está em Deus, e Deus, nele” (1 João 4:16). Não se pode deixar de ver nisto uma indicação de que a natureza de Deus em Si mesmo, tem no amor sua característica mais essencial e mais importante.

Uma essência isolada só pode amar a si mesmo: e o amor-próprio não é amor. Amor sempre pressupõe a existência do outro. Assim como o indivíduo não pode ter consciência de si mesmo se não estiver em relação com o outro, a pessoalidade de Deus se dá por Sua relação com o Outro. Esta é a razão pela qual o Novo testamento nos fala de Deus como subsistindo em três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Deus é a unidade das três Pessoas as quais possuem a mesma Divina Natureza, sendo esta natureza plena em cada uma Delas, sem que, com isto haja três “deuses”, mas um só Deus. Deus, a Trindade, é a plenitude do amor com o qual, cada uma das Pessoas (Hipóstases) comunica o Seu amor à outra Pessoa (Hipóstases). As Pessoas da Trindade estão unidas em Si mesmas “assim como Tu És em Mim e Eu em Ti” (João 17:21), Cristo falando ao Pai. “Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar” (João 16:14). Palavras de Cristo sobre o Espírito Santo..."

Programação da Igreja Sérvia no Recife

A Igreja Sérvia no Recife publicou em seu sitio os horários dos ofícios comemorativos da Semana santa. Clique aqui para acessar.

sábado, 19 de abril de 2008

«Lázaro, sai para fora!»


Deitado no túmulo, ouviste este chamamento imperioso. Haverá voz mais sonora do que a do Verbo? Então, vieste para fora, tu que estavas morto, e não apenas há quatro dias, mas há muito tempo. Ressuscitaste com Cristo […]; caíram-te as ligaduras. Agora, não voltes a cair na morte; não voltes a juntar-te aos que habitavam nos túmulos; não te deixes abafar pelas ligaduras dos teus pecados. É que talvez não pudesses voltar a ressuscitar. Poderias acaso retirar da morte deste mundo a ressurreição de todos, no final dos tempos? […]
Que o chamamento do Senhor te ressoe, pois, aos ouvidos! Não te feches aos ensinamentos e aos conselhos do Senhor. Se estavas cego e mergulhado em trevas no túmulo, abre os olhos para não te afundares no sono da morte. Na luz do Senhor, contempla a luz; no Espírito de Deus, fixa o teu olhar no Filho. Se acolheres a Palavra, concentrarás na tua alma todo o poder de Cristo, que cura e ressuscita. […] Não receies sofrer para conservares a pureza do teu baptismo e abre no coração os caminhos que te fazem ascender ao Senhor. Conserva cuidadosamente o acto de libertação que recebeste por pura graça. […]
Sejamos luz, como os discípulos aprenderam a sê-lo Daquele que é a grande Luz: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). Sejamos luminárias no mundo, erguendo bem alto a Palavra da vida, sendo poder de vida para os outros. Partamos em busca de Deus, em busca Daquele que é a primeira e a mais pura das luzes.

São Gregório de Nazianzo (330-390)Sermão sobre o Santo Batismo

Fonte: Ecclesia

«Jesus chorou. Os judeus disseram: 'Vede como ele o amava'»

Porque eras Deus verdadeiro, tu conhecias, Senhor, o sono de Lázaro e preveniste os teus discípulos... Mas na tua carne, Tu, que no entanto não tens limites, vens até Betânia. Como verdadeiro homem, choras sobre Lázaro; como verdadeiro Deus, ressuscitas pela tua vontade aquele que estava morto há quatro dias... Tem piedade de mim, Senhor; muitas são as minhas transgressões. Traz-me de volta, te suplico, do abismo dos males em que me encontro. Foi por ti que eu gritei; escuta-me, Deus da minha salvação.
Chorando sobre o teu amigo, na tua compaixão puseste fim às lágrimas de Marta; pela tua Paixão voluntária, secaste todas as lágrimas do rosto do teu povo (Is 25,8). «Bendito sejas, Deus de nossos Pais!» (Esd 7,27). Guardião da vida, chamaste um morto como se ele dormisse. Com uma palavra, rasgaste o ventre dos infernos e ressuscitaste aquele que começou a cantar: «Bendito sejas, Deus dos nossos Pais!". Quanto a mim, estrangulado pelas amarras dos meus pecados, ergue-me também e eu cantarei: "Bendito sejas, Deus dos nossos Pais!»...
Em reconhecimento, Maria traz-te, Senhor, um vaso de mirra que estaria preparado para o seu irmão (Jo 12,3) e canta-te por todos os séculos. Como mortal, invocas o Pai; como Deus, despertas Lázaro. Por isso nós te cantamos, ó Cristo, pelos séculos dos séculos... Despertas Lázaro, morto há quatro dias; fá-lo erguer-se do túmulo, designando-o assim testemunha verídica da tua ressurreição ao terceiro dia. Tu andas, falas, choras, meu Salvador, mostrando a tua natureza humana; mas, ao despertares Lázaro, revelas a tua natureza divina. De uma maneira indizível, Senhor, meu Salvador, de acordo com as tuas duas naturezas e de uma forma soberana, realizaste a minha salvação.

São João de Damasceno (cerca 675-749), «Matinas do sábado de Lázaro»

Fonte: Ecclesia

Sábado de Lázaro: Prelúdio da Cruz

«Tendo completado o percurso dos 40 dias... nós suplicamos ver a Semana Santa da tua paixão».

Com essas palavras, cantadas nas vésperas da sexta-feira de Ramos, é que termina a quaresma, e que entramos na comemoração anual dos sofrimentos de Cristo, de sua morte e de sua ressurreição. Ela começa no sábado de Lázaro. A festa da ressurreição de Lázaro, somada à da entrada do Senhor em Jerusalém, é chamada nos textos litúrgicos: «Prelúdio da Cruz». É portanto no contexto da grande semana que o significado desta festa dupla fica mais claro. O tropário comum à esses dois dias nos diz:

- «Ressuscitando Lázaro,
o Cristo confirmou a verdade
da Ressurreição Universal».

Aqueles que estão familiarizados com a liturgia ortodoxa, conhecem o caráter singular e paradoxal dos ofícios desse sábado de Lázaro. Esse sábado é celebrado como um domingo, quer dizer que se celebra aí o ofício da Ressurreição quando, normalmente, o sábado é consagrado à comemoração dos defuntos. A alegria que ressoa no ofício sublinha o tema principal: a vitória próxima de Cristo sobre o Hades. Na Bíblia, o Hades significa a morte e seu poder universal, a noite inevitável e a destruição que traga toda a vida, envenenando com suas trevas devastadoras o mundo inteiro. Mas eis que, pela ressurreição de Lázaro, «a morte começa a tremer»; é o começo de um duelo decisivo entre a vida e a morte, um duelo que nos dá a chave de todo o mistério litúrgico da Páscoa. Para a Igreja primitiva, o sábado de Lázaro era, o «anúncio da Páscoa»; de fato, esse sábado proclama e já faz aparecer a maravilhosa luz e a paz do sábado seguinte: o grande e santo Sábado, o dia do túmulo vivificante que dá a vida.

Compreendemos logo que Lázaro, «o amigo de Jesus», personifica cada um de nós e toda a humanidade, e que Betânia, «a casa» do homem Lázaro, é o símbolo de todo o universo, habitat do homem. Todo homem foi criado amigo de Deus e chamado a esta amizade divina que consiste no conhecimento de Deus, na comunhão com ele, o compartilhar da mesma vida: «A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens» (Jo 1:4). E, portanto este amigo bem amado de Deus, criado por amor, ei-lo destruído, aniquilado por um poder que Deus não criou: a morte. Deus é afrontado em sua obra por um poder que a destrói e torna nulo seu desígnio. A criação é apenas tristeza, lamentação, lágrimas e finalmente morte. Como é possível? Essas questões se encontram latentes no texto detalhado que João nos faz da vinda de Jesus à tumba de seu amigo. «Uma vez chegado à tumba de seu amigo», diz o evangelista, «Jesus chorou» (Jo 11:35). Por que ele chora, uma vez que ele sabe que dentro de um instante ele ressuscitará Lázaro à vida?

Os hinógrafos bizantinos não souberam compreender o sentido verdadeiro dessas lágrimas, atribuindo-as à sua natureza humana, uma vez que, de sua natureza divina ele detinha o poder de ressuscitar os mortos. Entretanto, a Igreja ortodoxa ensina claramente que todas as ações de Cristo são teândricas, isto é, ao mesmo tempo divinas e humanas, sendo as ações do único e mesmo Deus-Homem, o Filho de Deus encarnado. É o Homem-Deus que vemos chorar, é o Homem-Deus que fará sair Lázaro de seu túmulo. Ele chora.... são lágrimas divinas; ele chora porque contempla o triunfo da morte e da destruição da criação saída das mãos de Deus. «Ele já cheira mal», dizem os judeus, como para impedir Jesus de se aproximar do corpo; terrível advertência que vale para todo o universo, para toda a Vida. Deus é Vida e Doador de Vida, ele chamou o homem para esta realidade divina da vida, e eis "que ele cheira mal." O mundo foi criado para refletir e proclamar a glória de Deus, e eis «que ele cheira mal»! No túmulo de Lázaro Deus encontra a morte, a realidade da antivida, da destruição e do desespero. Ele se encontra face à face com seu Inimigo que lhe arrebatou a criação, que era sua, para tornar-se o Príncipe. Nós que seguimos Jesus se aproximando do túmulo, entramos com ele na sua Hora, aquela que ele anunciou freqüentemente como o apogeu e o cumprimento de toda sua obra. Neste curto versículo do Evangelho: «Jesus chorou», é a Cruz que é anunciada, sua necessidade e seu significado universal. Compreendemos agora que é porque «Jesus chorou», melhor dizendo porque ele amava seu amigo Lázaro, que ele tem o poder de o chamar à vida. A ressurreição não é a simples manifestação de um poder divino, mas antes o poder de um amor, o amor tornado poder. Deus é Amor e Amor é Vida, ele é criador de vida... É o Amor que chora sobre o túmulo e é o Amor também que dá a vida; lá está o sentido das lágrimas divinas de Jesus. Elas nos mostram o amor de novo à obra, recriando, resgatando e restaurando a vida humana presa das trevas: "Lázaro, sai para fora!...»
Eis porque esse sábado de Lázaro inaugura ao mesmo tempo a cruz como supremo sacrifício de Amor, e a ressurreição como seu último triunfo:

«O Cristo é para todos alegria, verdade, luz e vida,
Ele é a ressurreição do mundo,
n'Ele o amor apareceu para aqueles que estão na terra,
imagem da ressurreição,
concedendo a todos o perdão divino».

(Kondakion do Sábado de Lázaro)

Fonte: «O Mistério Pascal» - Comentários Litúrgicos Alexandre Schmémann, Olivier Clément
Ecclesia

Orígenes: Oração

Quer-me parecer que quem se dispõe a orar deverá recolher-se e procurar preparar-se um pouco para conseguir ficar mais atento, mais concentrado no todo da sua oração. Deve também afastar do seu pensamento a ansiedade e a perturbação, e esforçar-se por lembrar a grandeza de Deus de quem se aproxima, pensar também que será ímpio se a Ele se apresentar sem a necessária atenção, sem algum esforço, mas com uma espécie de à vontade; deve, enfim, rejeitar todos os pensamentos excêntricos.

Ao começar a oração, devemos apresentar, digamos, a alma antes das mãos, erguer a Deus o espírito antes dos olhos, libertar o espírito da terra antes de o elevarmos para oferecê-lo ao Senhor do universo, depor, enfim, quaisquer ressentimentos por ofensas que cremos ter sofrido, se de fato desejamos que Deus esqueça o mal cometido contra Ele próprio, contra os nossos semelhantes, ou contra a boa razão.

Dado que podem ser muitas as atitudes do corpo, o gesto de erguer as mãos e os olhos aos céus deve claramente ser preferido a todos os outros, para assim exprimirmos no corpo a imagem das disposições da alma durante a oração [...], mas as circunstâncias podem por vezes levar-nos a rezar sentados [...] ou mesmo deitados [...]. No que diz respeito à oração de joelhos, esta se torna necessária sempre que acusamos os nossos pecados perante Deus, e Lhe suplicamos que deles nos cure e nos absolva. Essa atitude é o símbolo da humilhação e da submissão de que fala Paulo, quando escreve: «É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra» (Ef 3, 14-15). Trata-se da genuflexão espiritual, assim chamada porque todas as criaturas adoram a Deus no nome de Jesus e humildemente a Ele se submetem. O apóstolo Paulo parece fazer uma alusão a isso quando diz: «Para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra» (Fl 2,10).


Orígenes (c.185-253), presbítero e teólogo
A Oração, 31

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Odes de Salomão

Como asas de pombas que protegem as crias […]
Assim são as asas do Espírito sobre o meu coração.
O meu coração rejubila e estremece
Qual criança no seio da mãe.

Cri e encontrei o descanso
Aquele em quem eu acreditei é fiel.
Abençoou-me e a minha cabeça para Ele se voltou.
Gládio algum, ou espada d’Ele me separará,
Preparei-me, antes da hora da perda,
Em seus braços incorruptíveis me acalentei.
A vida imortal a tal me levou, me constrangeu;
E dela vem o Espírito que me habita ;
Que não pode morrer, porque é a vida.

Os que me viram em espanto ficaram
Porque eu era perseguido.
Pensavam-me aniquilado,
Porque a seus olhos eu estava perdido.
Mas a opressão tornou-se a minha salvação.

Tornara-me objeto de desprezo.
Em mim nada havia que invejar;
A todos fazia o bem,
E fui odiado por isso.
Como cães enraivecidos me cercaram (Sl 21, 17),
Insensatos que contra seus amos se revoltam;
Têm corrompida a inteligência, pervertido o espírito.

Retive as águas do meu lado direito,Em mansidão suportei-lhes o rancor.Não pereci, pois não era dessa casta,O meu nascimento não foi como o seu.Procuraram a minha morte e não o conseguiram ;Eu era mais antigo que a sua memória.Sobre Mim em vão se arremessaramOs que Me perseguiam ;Em vão procuraram extinguirA memória d’Aquele que era antes deles.Nada pode ultrapassar o desígnio do Altíssimo,O seu coração é superior a toda a sabedoria.Aleluia !
Texto cristão do princípio do séc. II

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Encontro de Dirigentes das Igrejas-Membro do MOFIC

Em 16 de abril, na Casa da Reconciliação em SP, realizou-se o encontro anual dos dirigentes das Igrejas que compõe o MOFIC - Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs. Estavam presentes os seguintes dirigentes: Arcebispo Dom Damaskinos Mansour - Igreja Ortodoxa Antioquina Cardeal-Arcebispo Dom Odilo Scherer - Igreja Católica Romana Arcebispo Dom Datev Karibian - Igreja Apostólica Armênia Pastor Sinodal Guilherme Lievem - Igreja Evangélica de Confissão Luterana Reverendo César Fernandes, representante do Bispo Dom Roger Bird - Igreja Episcopal Anglicana Vice-Moderador Joel Moraes - Igreja Presbiteriana Unida Também estavam presentes o Bispo Metodista Adriel Maia, com vários pastores, pastores da Igreja Presbiteriana Independente, além de sacerdotes e leigos católicos, bem como pastores e leigos das Igrejas-membro. A reunião constou de devocional, palestra proferida pelo secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Dr. Eduardo Jorge Martim Alves, e almoço de confraternização.
Fonte: Arquidiocese Antioquina de São Paulo

Igreja Russa Comemora o Czar Nicolau II e Sua Família

Nicolau II, último Cazar da Rússia e toda sua família serão comemorados como mártires em festividades previstas para os dias 16 e 17 de julho próximo, por ocasião dos 90 anos do martírio da Família Imperial. O Arcebispo Vikenty de Yekaterinburg foi encarregado pelo Sínodo Russo de organizar as comemorações. Estão previstas celebrações em todas as paróquias da Igreja Russa (cerca de 27.000 paróquias).
Por iniciativa das lideranças leigas, o Sínodo também determinou que fossem comemoradas em todo o território russo as pessoas que foram assassinadas concomitantemente à Famélia Real.

Sínodo Russo Condena "Independência" de Kosovo

O Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa, reunido na última terça-feira, emitiu um documento se solidarizando com a Igreja Ortodoxa Sérvia e condenando a declaração unilateral de independência de Kosovo. O Sínodo afirmou que "os sérvios partilham da mesma fé que nós" e que tal patrimônio espiritual é base da cultura étnica e histórica da Sérvia e a separação de uma das partes é um ato de fragmentação deste patrimônio.
A Igreja Russa também disponibilizará ajuda humanitária a todos os sérvios que residem em Kosovo e sofrem agressões e discriminações.

Visita do Papa Bento XVI aos Estados Unidos


Em sua primeira visita aos Estados Unidos, que se iniciou no dia 15 de abril,o Papa Bento XVI agendou uma reunião ecumênica e, para a tal convidou os Hierarcas Ortodoxos. A reunião se dará na Paróquia Romano-Católica de São José, em Nova Iorque (uma igreja histórica fundada por alemães). O encontro está previsto para amanhã.

Entre os Hierarcas convidados está o Metropolita Herman(foto) da Igreja Ortodoxa na América, o qual se fará acompanhar do Chanceler Arcipreste Alexander Garklavs, Chanceler de OCA,; Arcipreste Leonid Kishkovsky, Moderador da Christian Churches Together in the USA e Diretor do Departamento de Relações Externas e Intereclesiásticas da OCA; Padre John Behr, Decano do Seminário de São Vladimir, Crestwood, NY; do Arcipreste Chade Hatfield, Chanceler de Seminário; do Arcipreste John H. Erickson e do Dr. Paul Meyendorff, membros do Comitê Ortodoxo-Católico Norte-Americano para Consultas Teológicas.