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segunda-feira, 5 de maio de 2008

OS RUSSOS E O BRASIL

O início dos contatos da Rússia com o Brasil remonta aos primórdios do século 19. O primeiro contato registrado pela História aconteceu em 1804 durante a primeira expedição russa de volta ao mundo. Os 2 navios desta expedição, "Nadejda" e "Neva", atracaram em portos brasileiros, inclusive em Recife. Conta a lenda que a tripulação foi convidada para uma festa naquele porto e, durante a mesma, os marinheiros russos fizeram uma demonstração de passos de suas danas folclóricas. Os anfitriões, impressionados, gostaram e passaram a imitar estes passos introduzindo-os no folclore local e dando origem ao famoso "frevo". Entre os cientistas que participavam da expedição estava o famoso G.I. Langsdorf. Naturalista, geógrafo e geólogo ele foi o explorador de Kamtchatka e dos territórios da América "russa". G. Langsdorf desempenhou um importantíssimo papel no estabelecimento de relações entre o Brasil e a Rússia. Sua atividade científica esteve ligada ao Brasil desde 1813, quando foi nomeado consul geral no Rio de Janeiro. Em 1826, ao se aposentar do serviço diplomático, ele organizou (sob o patrocínio do czar Alexandre I) uma expedição de exploração do interior do Brasil com a qual percorreu mais de 11,5 mil quilômetros. A expedição realizou a travessia das bacias do rio Paraná, Paraguai e Tabajs -- um verdadeiro ato heróico de seus participantes. Em 1828 G. Langsdorf concluiu o manuscrito da sua obra sobre a geografia física de Mato Grosso, um estudo complexo do planalto brasileiro e que foi a primeira pesquisa européia do gênero. O Brasil honra ate hoje a memória de G. Langsdorf e de suas conquistas cientificas. A intenção mútua de estabelecimento de relações diplomáticas oficiais entre os dois países começou logo após a declaração da independência do Brasil. No dia 09 de dezembro de 1827, o ministro das relações exteriores da Rússia, Sr. Nesselrode, enviou uma carta circular a todas as embaixadas russas informando o reconhecimento oficial do Brasil. Assim a Rússia tornou-se a 27a. nação a reconhecer o novo império sul-americano, fato oficialmente comunicado a D. Pedro I em 02 de janeiro de 1828.


Como primeiro embaixador russo no Rio de Janeiro foi designado F. Borel (de origem francesa) que há tempos estava a serviço da Rússia como consul geral em Portugal. Ele tambm desempenhou um importante papel nas primeiras relações russo-brasileiras pois, ao assumir o cargo, o comércio entre os dois países desenvolveu-se bastante bem e a exportação de mercadorias brasileiras para a Rússia cresceu sobremaneira. Se, de 1813 a 1825 os portos da Rússia não receberam nenhum navio vindo do Brasil, já no perodo de 1826 a 1828 atracaram 49 embarcações trazendo mercadorias brasileiras e outros 2 navios levaram mercadorias russas ao Brasil. A Rússia recebia açúcar, café, cacau e madeiras de lei para a decoração interna dos palácios de São Petersburgo, e exportava ao Brasil ligas de ferro. No período de 1883 a 1892, o embaixador russo da época, A. S. Ionin, também viajou muito pelo país, observando cuidadosamente a natureza, a economia e os costumes do povo brasileiro. Voltando à Rússia, no inicio do século, publicou o livro "Pela América do Sul" (em 3 volumes).

Imigrações

Imigrações da Europa

1905
A primeira imigração oficial de russos para o Brasil ocorreu após a malfadada revolução de 1905 na Rússia, tendo o governo brasileiro concedido asilo político aos revolucionários. Em 1906, grupos descontentes com as renovações litúrgicas promovidas pela Igreja Ortodoxa Russa, os assim chamados "staroveri" ("fiis do antigo credo"), resolveram deixar o país para manterem as suas crenças religiosas. Eram grupos formados em sua maioria de camponeses de todas as regiões da Rússia e que acabaram por se fixarem como pequenos produtores rurais em diversos estados brasileiros. No Estado de Mato Grosso os "staroveri" estabeleceram-se numa fazenda onde, ate hoje, cultivam a terra num sistema coletivo.

1918
Uma segunda imigração, bem mais numerosa, aconteceu a partir de 1918 composta de refugiados russos da revolução bolchevista. Especialmente em 1920 e posteriormente aqui chegaram muitos russos "brancos" (adeptos do regime czarista), vindos da Criméia. O contingente de emigrantes russos de 1921 era formado de representantes de diversos classes profissionais e sociais da deposta monarquia russa. Eram padres, estudantes de escolas militares, literatos, intelectuais, religiosos e, principalmente, oficiais e soldados do exercito "branco" czarista, derrotados na luta contra a implantação do regime comunista. Lotando vasos de guerra, navios mercantes e pequenas embarcações de diversas nacionalidades eles atravessaram o Mar Negro até Istambul, seguindo depois para Galipoli e para a ilha de Lemnos, ainda na Turquia. De lá, tomaram como destino diversos países do mundo, inclusive o Brasil. Em 1926, outro contingente emigratório da Rússia usando as rotas do Mar Báltico, passando principalmente pela Estônia e, mais ao norte, pela Finlândia. Naquela época, a imigração para o Brasil tinha um incentivo maior, pois, a política imigratória do Estado de São Paulo privilegiava a vinda de camponeses e pessoas habituadas a trabalhos pesados no campo. Descontentes e perseguidos em seu próprio país, estes novos contingentes no hesitaram em dissimular sua instrução e cultura para aproveitar esta oportunidade e sair da Rússia de qualquer maneira, fugindo do novo regime.

1945
Durante toda a década de 20, milhares de famílias russas buscaram refúgio nos países vizinhos: Polônia, Estônia, Tcheco-Eslováquia, Iugoslávia, Bulgária e China. Com o término da Segunda Guerra em 1945, a União Soviética estendeu seu controle aos países do leste europeu. Os russos, que estavam exilados naqueles países, foram obrigados a emigrar novamente. A estes exilados juntaram-se outros que, feitos prisioneiros durante a guerra, prestaram trabalhos forçados aos alemães e, por isso, temiam ser acusados pelo regime stalinista de "colaboracionistas dos alemães" . Havia também muitos membros do exército soviético que, com o fim do conflito, desertaram e procuraram as foras ocidentais. Ficaram conhecidos como Displaced Persons (DP), ou Deslocados de Guerra. Sob a tutela da UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) e, posteriormente, da IRO (Intemational Refugee Organization), eles primeiramente permaneceram em campos de refugiados na Áustria. Depois, na condição de apátridas, foram encaminhados para diversos países, inclusive o Brasil. O grupo mais numeroso de imigrantes russos foi o proveniente dos campos de refugiados da Alemanha, Áustria e Itália. Chegando ao Brasil, foram abrigados nas hospedarias da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, e na de Campo Limpo Paulista, em São Paulo, criadas especialmente para esse fim. Esse movimento manteve-se intenso ate o incio da década de 1950.Os dados sobre a imigração russa no Brasil registram a entrada no pais de 123.727 russos no período de 1919 a 1947. Este número parece exorbitante e provavelmente há alguma confusão com o termo genêrico "eslavos". Podemos admitir que a maior parte dos, assim chamados, "russos" deve ter sido de ucranianos, armênios, lituanos, letos, etc.

Imigração da China
Em fins do século XIX o governo imperial russo decidiu estender os trilhos da Ferrovia Transiberiana ate a cidade de Vladivostok, no extremo leste da Rússia. Para racionalizar o traçado, foi selado um acordo com a China que cedeu parte do território da Manchúria para a Rússia. Assim, um grande número de técnicos e engenheiros, juntamente com suas famílias deslocou-se para esta região, as margens do rio Sungari fundaram uma pequena aldeia ferroviária que chamaram de Harbin. A aldeia desenvolveu-se rapidamente e, em poucos anos, transformou-se numa grande e próspera cidade russa, com igrejas, faculdades, hospitais, escolas, teatros e associações culturais. Com a vitória do exército "vermelho" (bolchevique) em 1918, uma parcela do derrotado exercito "branco" do front leste da Rssia, fugiu para a China e fixou-se na mesma Harbin. O governo bolchevista, ao assumir o poder, declarou nulos todos os acordos da Rússia Imperial e Harbin voltou a pertencer novamente a China. Na prática, isto não teve maior repercussão na vida de seus habitantes russos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a região foi invadida pelo exército japonês, mas a cidade e seus habitantes não sofreram maiores danos. Somente o advento da Revolução Chinesa de 1947 alterou este quadro de estabilidade, pois o novo governo comunista chinês exigiu a saída de estrangeiros do pais. Mais uma vez, a população russa foi obrigada a procurar outras terras. A partir de 1953 seguiram para o porto livre de Hongkong tomando dali os rumos dos Estados Unidos, Austrália e Brasil.Entre 1949 a 1965, chegaram ao Brasil aproximadamente 25 mil russos, fugindo da revolução comunista da China. Eram, em boa parte, filhos de russos que emigraram para a China fugindo da revolução comunista da Rússia (1917) no fim da Primeira Guerra Mundial. O Brasil concedeu-lhes generosamente o visto de entrada. Naqueles anos falava-se de "refugiados russos", pois eles chegavam aqui mais por motivos políticos e religiosos. Na realidade, alguns deles no se adaptaram ao Brasil e, após aproveitarem a boa acolhida, dirigiram-se para outros países, principalmente Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Vida dos russos no Brasil
A grande maioria dos russos que permaneceu no pais, concentrou-se principalmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Nos Estados de Paraná, Mato Grosso e Goiás prevaleciam os grupos dos supracitados "starovery". Gradativamente, estes imigrantes adaptaram-se as novas condiçes, trabalhando, estudando a língua portuguesa e formando seus filhos nas universidades. Assim, com trabalho, inteligência, economia e sacrifícios, lograram obter boa posição econômica e social. Freqentando as escolas brasileiras do curso primário ao universitário, a nova geração dos filhos de imigrantes adultos está plenamente integrada no Brasil. Entretanto, o ensino da língua, historia e literatura russas ficou reduzido a escolinhas particulares junto as igrejas. Alguns jornais periódicos e a tipografia russa acabaram desaparecendo pois, hoje em dia, poucos da nova geração sabem ler e escrever em russo. Neste sentido, os "starovery" no Paraná, Mato Grosso e Goiás mostraram-se mais organizados e unidos entre si. Dedicam-se a lavoura com muito êxito e conservam a autenticidade russa tanto no sentido religioso-eclesiástico quanto na língua, tradições e costumes da Rússia. Seus filhos também estudam em escolas e universidades do país, mas permanecem fiéis a sua religião e seus estudos do russo, sabendo assim falar, ler e escrever em seu idioma. Raros imigrantes russos ficaram marginalizados ou dependentes de obras caritativas das igrejas. Em São Paulo, local de maior concentração da colônia russa, esta organizou três grandes e bem instalados asilos para idosos russos.

Religião
Quanto a religião, os russos são quase todos ortodoxos e, em São Paulo, inicialmente usavam o templo sírio-libanês para celebrar suas missas em eslavo eclesiástico. Todavia, logo quiseram construir a sua prpria igreja e o fizeram. Em 1930 construram a Igreja da Santíssima Trindade no bairro de Vila Alpina. Em 1935, chegou ao Brasil o bispo D. Theodosio para fundar a Diocese Ortodoxa, com sede na rua Tamandaré, onde foi então, construída a Catedral de São Nicolau. Outros templos ortodoxos ergueram-se em São Paulo e em outras localidades do Brasil (Rio, Niterói, Porto Alegre, Goiânia e Santa Rosa).Os imigrantes russos ortodoxos, pertencem no a Igreja Ortodoxa da Rússia, mas à Igreja Ortodoxa Russa no Exílio, com sede em Nova Iorque. No momento, há tentativas de se instalar no Brasil a Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscou, com nova catedral em São Paulo. Os católicos russos do Brasil são pouco numerosos e pertencem ao Ordinariato para fiéis do rito oriental, ora entregue ao Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro. Ele mantêm, desde 1950 e com muito sucesso e simpatia dos próprios ortodoxos, a Obra Ecumênica Russa, cuja realização maior foi a criação dos Institutos São Vladimir (dos Padres Jesuitas, para meninos) e Santa Olga (das Irmãs Ursulinas de rito bizantino-russo, para meninas). Estes institutos prestaram uma valiosssima contribuição na educação e instrução de língua russa, rito bizantino e folclore russo e, durante a sua existência, acolheram e educaram mais de 500 crianças filhos de imigrantes russos. A seriedade e a eficiência dos seus métodos educativos de respeito as tradições russas e de integração cultura brasileira foram muito apreciados pelos pais das crianças e por toda a colônia russa. Com o passar dos anos e advento de novas gerações estes institutos não foram mais procurados e, nos anos 90, acabaram fechando. O centro da Obra Ecumênica Russa a Igreja russa da AnunciaÇào (R. dos Sorocabanos, 150), localizada perto do monumento do Ipiranga, em São Paulo e dirigida pelo Pe. Joan Stoisser S.J. Existe também um bom numero de batistas, com culto em língua russa.

Associações Culturais
No período citado acima existiram na colônia russa muitas associações culturais de maior ou menor vulto que tiveram existências curtas e longas. Entre elas, destacaremos uma. Nos anos 70, ex-alunos dos Institutos São Vladimir e Santa Olga formaram o Grupo "Kalinka" -- um grupo de danças e canto folclórico russo - que, durante a sua relativamente curta existência, apresentou-se com muito sucesso em diversos festivais folclóricos e na TV. Infelizmente, aquela era uma época de repressão, de "caça aos comunistas" e a palavra "russo" para muitos significava "comunista". Em função disso, o Grupo "Kalinka" teve de encerrar suas atividades após 4 anos de frutífera existência.

Circulo Cultural Nadejda
Entidade cultural, fundada em 1982 em São Paulo com o objetivo de divulgar a cultura russa através de exposições e apresentações folclóricas. Para tanto criou o Grupo "Troyka" de danças típicas russas, cujos integrantes são filhos e netos de russos ou simpatizantes de sua cultura.

Grupo Russo de Danças Folclóricas "Volga"
Nos anos 80, surgiu o grupo de danças folclóricas "Volga", inicialmente formado por filhos e netos de imigrantes russos. O grupo se renova constantemente e ate hoje faz grande sucesso em suas animadssimas apresentações.

Coral "Melodia"
Em 1990, num esforço mútuo de coralistas da igrejas ortodoxas e de seu regente sr. Aleksandr Sergueevitch Politansky (in memoriam), foi criado o Coral "Melodia" cujo repertório consiste de músicas russas tradicionais, líricas, folclóricas e populares. O Coral se apresenta com sucesso em festivais beneficientes

Bibliografia: BRASIL: INTEGRAÇÃO DE RAÇAS E NACIONALIDADES do Cardeal Agnelo Rossi: Documentos do Museu do ImigranteArtigo de Vladimir V. Avrorsky, Consul Geral da Rússia, publicado no peridico DiZ No. 21


Fonte: www.news-of-russia.info

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