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sábado, 19 de abril de 2008

Orígenes: Oração

Quer-me parecer que quem se dispõe a orar deverá recolher-se e procurar preparar-se um pouco para conseguir ficar mais atento, mais concentrado no todo da sua oração. Deve também afastar do seu pensamento a ansiedade e a perturbação, e esforçar-se por lembrar a grandeza de Deus de quem se aproxima, pensar também que será ímpio se a Ele se apresentar sem a necessária atenção, sem algum esforço, mas com uma espécie de à vontade; deve, enfim, rejeitar todos os pensamentos excêntricos.

Ao começar a oração, devemos apresentar, digamos, a alma antes das mãos, erguer a Deus o espírito antes dos olhos, libertar o espírito da terra antes de o elevarmos para oferecê-lo ao Senhor do universo, depor, enfim, quaisquer ressentimentos por ofensas que cremos ter sofrido, se de fato desejamos que Deus esqueça o mal cometido contra Ele próprio, contra os nossos semelhantes, ou contra a boa razão.

Dado que podem ser muitas as atitudes do corpo, o gesto de erguer as mãos e os olhos aos céus deve claramente ser preferido a todos os outros, para assim exprimirmos no corpo a imagem das disposições da alma durante a oração [...], mas as circunstâncias podem por vezes levar-nos a rezar sentados [...] ou mesmo deitados [...]. No que diz respeito à oração de joelhos, esta se torna necessária sempre que acusamos os nossos pecados perante Deus, e Lhe suplicamos que deles nos cure e nos absolva. Essa atitude é o símbolo da humilhação e da submissão de que fala Paulo, quando escreve: «É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra» (Ef 3, 14-15). Trata-se da genuflexão espiritual, assim chamada porque todas as criaturas adoram a Deus no nome de Jesus e humildemente a Ele se submetem. O apóstolo Paulo parece fazer uma alusão a isso quando diz: «Para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra» (Fl 2,10).


Orígenes (c.185-253), presbítero e teólogo
A Oração, 31

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