Rm 6, 18-23; Mt 8, 5-13 (Para ler os textos, clicar em cima das referências)
Contemplação do Evangelho
Centurião, era um oficial do exército romano que comandava uma legião de cem soldados, formando com ele uma pequena base militar em locais estratégicos para assegurar a ordem e bom andamento do Império. Vale notar que todos os centuriões mencionados nos Evangelhos e no Livro dos Atos dos Apóstolos eram pessoas de boa índole, que se comoviam diante das necessidades e dos flagelos. Por exemplo: o Centurião que comandava os soldados que crucificaram Jesus reconheceu e confessou que Ele era o Filho de Deus (Mt 27,57) e inocente das acusações que lhe eram atribuídas. (Lc 23, 47).
O Evangelho desta semana nos mostra justamente este lado humano daqueles que a princípio eram vistos como frios soldados a serviço de um império que massacrava. Mateus e Lucas narram este episódio.
A cura do criado do Centurião romano que pede a Jesus por ele, verifica que podemos e devemos rezar por nossos irmãos e não somente por nossas próprias necessidades. São Teófilo de Antioquia um dos primeiros célebres da Patrística (II século), enaltece o coração daqueles que sentem que o seu próximo está necessitado de ajuda espiritual.
Segundo o relato admirável de Lucas, um Centurião romano tinha enfermo de morte um criado a quem estimava muito. Ao ouvir falar de Jesus, enviou-lhe servos, pedindo-lhe que fosse curar o seu criado. Os enviados foram até o Senhor. Quando este já estava se aproximando da casa, envia uma segunda delegação por meio de uns amigos:
Senhor, não precisas incomodar-te, porque eu não sou digno de que entres em minha casa; por isso também não me julguei digno de ir ter contigo; mas dize uma só palavra e o meu criado será salvo».
Se vale de um argumento de acordo com sua psicologia militar:
[...] pois até eu que sou um subalterno tenho soldados à minha disposição e digo a um: vá, e ele vai; e a outro: venha, e ele vem; e, ao meu empregado: faça isso, e ele faz».
Ao ouvir isto, Jesus se admirou dele e, voltando-se para a gente que o seguia, disse: "nem em Israel encontrei tanta fé". Ao voltar para casa os enviados encontraram o criado são. Embora nenhum dos dois interlocutores do colóquio à distância, - Jesus e o Centurião - se conhecesse um ao outro, há, não obstante, um diálogo muito próximo, porque a fé do suplicante e a palavra eficaz de Jesus encurtam o espaço físico. O Centurião romano admira a pessoa e o poder sobrenatural de Jesus, e o Senhor por sua vez faz elogios à sua fé. Grande maturidade humana em ambas as personalidades, pois uma das qualidades que engrandecem uma pessoa é sua capacidade de reconhecer os gestos nobres dos outros, demonstrando assim sensibilidade para apreciar os valores.
O Evangelista São Mateus relata que o próprio Centurião foi ao encontro do Senhor. Embora haja diferenças na narrativa, os escritores sagrados concordam em ressaltar a fé do Centurião que fez o Senhor proferir palavras de admiração. Sem duvidas um grande elogio, mas também uma triste constatação. E um alerta para todos nós!
Para o Centurião não era necessário que o Senhor fosse à sua casa, bastava uma palavra sua. Nós muitas vezes não confiamos desta maneira exemplar na Providencia. Somos mais exigentes e tal exigência revela nossa "pouca fé". É preciso ser humildes para pedir e grandes no confiar.
O centurião de Cafarnaúm é modelo de ambas as virtudes. Todos os grandes cristãos da história foram profundamente humildes diante de Deus e dos homens, embora fossem grandes personalidades, grandes sábios ou grandes santos. De fato, são duas virtudes que vão unidas. Aquele que crê em Deus santo e misericordioso, quando se vê a si mesmo pecador e mesquinho, não pode exclamar senão com sinceridade: "Senhor, eu não sou digno!" Assim rezava também o Publicano da parábola: "Tem compaixão de mim". Ele mereceu o favor de Deus, pois seu amor e salvação são sempre gratuitos e não se devem a nossos méritos. O fato de pedir pelo outro mostra a grandeza do coração humilde.
Na Divina Liturgia de São João Crisóstomo os momentos de súplicas são recorrentes, pontuando seu desenvolvimento, do início ao final. Uns em favor dos outros, desde aqueles que ocupam cargos mais elevados aos mais humildes dos servos, não excetuando as almas dos falecidos para quem sempre devemos pedir o descanso eterno.
Elevemos, então nossos corações aos Céus e, com humildade, não nos cansemos de repetir com os mais piedosos e santos monges de todos os tempos:
Kyrie eleison!, Kyrie eleison! Kyrie eleison!
Fonte: Ecclesia
SANTORAL (UMA TÃO GRANDE NUVEM DE TESTEMUNHAS)
Nada se sabe sobre a origem e a primeira parte da vida de Santo Eusébio. A história começa a registrar sua existência por volta do ano 361, quando já era bispo de Samosata e, como tal, participou do sínodo convocado em Antioquia para eleger o sucessor de bispo Eudoxio. Justamente, pelos esforços que empreendeu o bispo Eusébio, o Sínodo elegeu São Melécio, antigo bispo de Sebaste, e um homem venerado por sua piedade e sabedoria. Grande parte dos eleitores eram arianos e alimentavam a esperança de que, se votasse em favor de Melecio, este iria favorecer a sua doutrina, pelo menos tacitamente. Os arianos, porém, se decepcionaram ao ouvir no primeiro discurso do novo bispo de Antioquia, na presença do imperador Constâncio, que também era ariano, a reafirmação da doutrina ortodoxa da Encarnação, tal como havia sido exposta no Credo de Nicéia. Após este sermão, os arianos, furiosos, procuraram de todas as formas se livrarem do bispo, e o imperador Constâncio enviou um emissário a Santo Eusébio para pedir-lhe que entregasse as Atas Sinodais da eleição que havia sido confiada aos seus cuidados. Santo Eusébio respondeu que não poderia fazê-lo sem o prévio consentimento e aprovação de todos e cada um dos signatários. Este foi então ameaçado de ter sua mão direita decepada, se persistisse em sua atitude. O santo, estendendo as suas duas mãos, disse estar disposto e pronto a perdê-las, antes que trair a confiança que nele havia sido depositada. O imperador ficou muito impressionado com a coragem do bispo e já não mais insistiu. Durante algum tempo após esse incidente, Santo Eusébio participou ainda nos concílios e conferências dos arianos e semi-arianos, a fim de sustentar a verdade e na esperança e alcançar a unidade, mas a partir do Concílio de Antioquia, em 363, Santo Eusébio deixou de comparecer nas reuniões, porque percebeu que sua atitude escandalizava aos ortodoxos. Nove anos mais tarde, atendendo a um chamado urgente do já idoso São Gregório de Nazianzo, foi à Capadócia e lá exerceu sua influência e experiência em favor de São Basílio, na eleição para a sede vacante de Cesaréia. Tão notáveis foram os serviços prestados nessa ocasião que o jovem Gregório, numa carta escrita, refere-se a Eusébio como «a coluna da verdade, luz do mundo, instrumento da graça de Deus para o seu povo, apoio e glória de toda a ortodoxia». Entre São Basílio e Santo Eusébio se estabeleceu uma sincera amizade que continuou, mais tarde, através das cartas. Quando teve início a perseguição de Valente, Santo Eusébio, não satisfeito em proteger os seus próprios fiéis da heresia, empreendeu, de maneira incógnita, várias viagens para a Síria e Palestina para fortalecer a fé dos católicos, ordenar sacerdotes e ajudar aos bispos ortodoxos a nomear verdadeiros e dignos pastores para ocupar as sedes que ficavam vacantes. Seu extraordinário zelo despertou a animosidade dos arianos e, em 374, o Imperador Valente promulgou uma ordem que o condenava ao exílio em Trácia. Quando o oficial encarregado de fazer cumprir a ordem imperial foi apresentado a Santo Eusébio, o bispo rogou-lhe para que procedesse com toda a discrição, pois, se o povo suspeitasse do que estava acontecendo, podiam eles ser atacados e até mortos. Naquela mesma noite, portanto, depois de rezar o ofício, como de costume, enquanto todos dormiam, deixou calmamente a sua casa em companhia de um dos seus servidores, indo em direção ao Eufrates onde embarcou. Na manhã seguinte, quando alguns de seu povo perceberam que ele tinha partido, saíram em sua busca; alguns, tendo-o encontrado, suplicaram entre lágrimas, para que não os deixasse. Ele também chorou muito diante das manifestações de afeto daquelas pessoas, mas explicou-lhes que era necessário obedecer as ordens do imperador, exortando-os a confiar em Deus que tudo seria resolvido satisfatoriamente a seu tempo. Seus fiéis, numa demonstração de fidelidade ao seu bispo, recusaram-se a qualquer contato com os dois bispos arianos que ocuparam a sede durante seu exílio. A morte de Valente, em 378, pôs fim à perseguição e Santo Eusébio que pode então retornar à sua sede e ao seu povo. Os sofrimentos do exílio em nada diminuíram seu zelo e piedade. Graças aos seus esforços, restabeleceu, em toda a sua diocese, a unidade ortodoxa, e as sedes vizinhas foram ocupadas por prelados ortodoxos. Santo Eusébio estava visitando a cidade de Dolikha para lá instalar um bispo, quando uma mulher ariana, escondida no telhado de uma casa, atirou-lhe uma pesada pedra sobre a sua cabeça. O golpe que recebeu foi fatal e, como conseqüência, morreu alguns dias depois, tendo a promessa de seus amigos de que não reagiriam perseguindo ou castigando sua agressora.
Fonte: Ortodoxia.org
Trad.: Pe. André